sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Divulgações

Passando aqui rapidinho para divulgar o blog da querida Giselle Lovato Jonas, e Giselle eu só consegui entrar nesse seu blog, o outro deu para uma outra pagina lá.


E os blogs da Verônica Mello, e dica, quem for viciado em Niley esses blogs é uma boa escolha:




Agora vejo vocês no domingo para a maratona!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maratona?

Sorry, eu não estou postando esses dias pois estou acumulando os caps, para fazer uma MARATONA para vocês. O que acham??? A maratona deve ocorrer esse domingo pela parte da tarde ou a noite. Beijos seduzentes e vejo vocês em breve! ;)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Reflexos - One-Shot Fic

Sempre fui essa criança; sempre tive esse redemoinho dentro de mim.
Mas o problema não é esse.                         
Pense em uma jovem.
Pense em um quarto novinho.
Agora pense em mim, e inclua nesse pensamento o fato que eu retratei anteriormente.
São dez horas da noite e minha jaqueta preta de couro está em cima da cama novinha. Estou vestindo uma calça skinny preta com uma blusa branca da banda ramones; de frente para o espelho ¾ que reveste uma parede inteira de meu quarto novo. Passando lápis de olho preto.
¾ Por favor, filha. ¾ começou minha mãe pela milésima vez em 17 anos. ¾ Você tem que parar de ser assim. ¾ e ela apontou para mim.
Desde que nos mudamos pela milésima vez em 17 anos da minha vida, ela vem falando isso. Como se o motivo de tanto mudança seja eu! Não sou eu que tenho que ser legal com todo mundo, e no fim, me ferro, fico de mãos abanando. É ela! Ela que tenta dar o golpe do baú em todos os homens que ela vê uma oportunidade de crescer na vida. Eu não quero ser legal. Eu não quero ser ela!
Rolei meus olhos. E agora foi minha vez de apontar para ela e fazê-la ver os reflexos de minha alma.
Ela na gostou do que viu.
E me bateu.
Pela milésima vez em 17 anos.
¾ De novo não! ¾ eu segurei seu pulso quando a palma de sua mão mirou meu rosto.
¾ O que? Vai me bater? ¾ e ela gritou, tentando jogar toda sua culpa em cima de mim.
¾ Não. Não vou. Mas eu deveria! ¾ esbravejei, apertando o pulso dela, mas tomando o cuidado em não cravar minhas unhas em sua carne podre. ¾ Que eu saiba, e que eu ouça, não seria a primeira vez. Mas deve ser bem melhor do que apanhar de um homem, não é mesmo?¾ trinquei os dentes, inclinando a cabeça para o lado. ¾ Não pense eu que gosto, por que eu não gosto nem um pingo. ¾ cuspi no chão do quarto de hóspedes da casa do novo namorado de minha mãe.
Esse não é mais meu quarto novinho...
¾ Você enlouqueceu? ¾ ela gritou, tentando se livrar.
¾ Quem enlouqueceu aqui foi você! ¾ soltei-a, gritando.
E quando eu ia pegar minha jaqueta, a porta do meu quarto abriu, batendo forte na parede.
¾ O que está acontecendo aqui? ¾ o novo namorado da minha mãe gritou, entrando no quarto como um furação só de cueca, parando na minha frente.
Seu furacão confrontando com o meu.
Ele estava de costas para o espelho e eu estava na frente do mesmo, olhando meu reflexo. Meu rosto estava molhado, com a maquiagem borrada; e foi ai que eu percebi que eu chorava.
¾ Por que essa vadiazinha está gritando? ¾ ele gritou. Irônico, não?! Mas a casa é dele...
¾ Não foi nada, Patrick... ¾ minha mãe tentou toca-lo no ombro, mas ele a ignorou.
¾ Deixe para lá nada! Já é a décima vez que essa vadiazinha fica gritando enquanto eu tento dormir. Essa putinha está precisando de uma lição. ¾ e ele andou a passos lentos em direção a mim, enquanto eu regredia e minha mãe silenciou-se, amedrontada.
Eu chorava rios enquanto andava para trás, mas eu não soluçava. Meus soluços batiam no espelho da minha alma e fazia meu corpo tremer. Até que o espelho quebrou. Tanto o da minha alma quanto o do quarto de hospedes.
Foi minha mãe.
Quando o enorme espelho explodiu, cacos de vidro faiscaram por todo o quarto, fazendo Patrick se agachar no chão e me fazendo ver reflexos de minha dor por todo lado. E eu gritei. Alcancei minha jaqueta e vesti-a rápido, protegendo meus braços descobertos, e corri para a porta ainda de olhos fechados. Mas quando eu abri-os, Patrick estava desacordado, sangrando, deitado de bruços no chão e com um caco de vidro enfiado em sua nuca. E minha mãe estava ao meu lado.
¾ Corra! ¾ falou ela, ao meu lado, enquanto ouvíamos sirenes da policia se aproximando. Com certeza os vizinhos ouviram a gritaria e chamaram a policia. Eu olhei para ela atônica.¾ Corra, Demi! Pegue o carro e vá para longe! ¾ e segurando meu rosto, ela me deu um beijo forte da bochecha, comprimindo seus lábios em minha pele. ¾ Eu te amo, filha. ¾ ela chorava, depois de me soltar.
Abracei-a, chorando.
¾ Eu também te amo, mãe. ¾ apertei os olhos.
E sem olhar para trás, eu corri.
Mas assim que eu cruzei a porta dos fundos, eu pude ouvir carros ¾ da policia, claramente; estacionando em frente à casa.
Então, eu pensei rápido e pulei a cerca que rodeava a casa do namorado da minha mãe e fui para o quintal da casa vizinha que se encontrava todo escuro, já que estava de noite. Mas bastou eu dar dois passos, que a porta dos fundos se abriu.
¾ Fugindo da polícia, Lovato?
(...)

¾ Ai! Pega leve, Joe! ¾ exclamei.
Ainda dava para ouvir as sirenes na casa ao lado. Mas a dor que eu sentia pelo meu corpo me puxou de volta.
Merda!
Joseph.
Sem camisa.
Só de calça moletom.
Rindo da minha cara!
Pense em mim na cozinha do meu vizinho.
Pense em mim sem jaqueta.
Pense em Joseph ¾ meu vizinho; analisando os cortes que os cacos de vidro do espelho causaram em minha pele branca.
Agora nele passando água oxigenada em meus braços com um algodão.
¾ Isso arde! ¾ reclamei, puxando o braço.
Ele revirou os olhos.
¾ Pare de agir como criança e me deixe terminar. ¾ Oh!
Quem ele pensa que é?
Eu não respondi. Fechei a cara e girei os calcanhares.
Que se foda! Uma criancinha não estaria na situação em que eu estava quando ele me encontrou. Fugindo da policia!
Alcancei minha jaqueta nas costas do sofá e sai pelas portas dos fundos da casa dele. Parei. Não para agradecer. Mas para arrancar um pedaço de vidro que ainda restava de minha bochecha. Sangue corria por minha mão e minha bochecha. Sangue corria em minhas veias. Um sangue quente; quase me fazendo apitar como uma panela de pressão.
Foda-se. Eu já me estressei o suficiente.
¾ Demi. ¾ a voz aveludada de Joe vibrou atrás de mim. ¾ Desculpe-me, ok? ¾ Argh! ¾Você não agiu como uma criança. Eu agi. Entre. Você não precisa ir hoje. Desculpe por ter pegado pesado.
Suspirei.
Eu estava cansada.
Muito.
E estava toda quebrada!
Girei nos calcanhares e olhei-o. Esperando uma resposta vir até mim para eu entregar a ele.
Mas não foi a resposta que veio. Foi ele.
Quando ele chegou até mim, sua mão alcançou minha bochecha, meu sangue correndo junto com minhas lágrimas.
Foi ai que eu percebi que eu chorava.
Joe me trouxe para ele e me embalou com seus braços fortes.
Eu era baixa. Mais baixa que ele. Minha bochecha ensanguentada sujou seu peito, e ele se curvou para me enrolar completamente com seus músculos. Fechei os olhos. E quando eu os abri, eu estava em cima do balcão de mármore na cozinha. Continuei agarrando Joe pela cintura. Agora eu que estava curvada. Ele riu, mas deixou-se ser agarrado até eu parar de chorar. Ele beijava meu ombro ¾ Que era o que tinha em frente ao seu rosto; enquanto eu oscilava abraçada ao seu corpo, em uma tentativa de me acalmar. Isso me fez sorrir. Isso me fez parar de chorar. Agora sua bochecha também estava suja de sangue. Eu beijei meu sangue ali.
¾ Agora me deixe cuidar de você, Demi.
Sim.
Desci do balcão e tirei os sapatos, deixando eles ao lado do sofá. Certifiquei-me se eles estavam corretamente alinhados e voltei à cozinha.
Joe me observava com um sorriso no rosto.
Oh!
Corei.
¾ O que foi? ¾ aproximei-me dele e olhei seu maxilar. A barba estava rala, e isso o deixava absurdamente sexy.
Seu sorriso não abandonou seu rosto ao falar comigo.
Ele parecia encantado.
¾ Nada. ¾ deu de ombros e tentou reprimir o sorriso, em um biquinho. Eu sabia que sim, tinha alguma coisa ali; mas eu não forcei a barra. Fui para frente da bancada e o esperei vir até mim.
Oh merda!
Ele tinha agulha na mão.
Arregalei os olhos e meu coração expandiu, tomando uma grande lufada de ar.

‘’ ¾ Papai! ¾ ela gritou, ao notar a enfermeira chegando com uma agulha.
O pai sorriu. Eddie era um homem lindo. Ele foi à primeira paixão de Demetria.
¾ Papai está aqui, florzinha. ¾ ele apertou a mão da menina, reconfortando-a. A menina mordeu o lábio superior e o trouxe para dentro da boca. O homem riu; ela sempre fazia isso; era uma maneira de se controlar.
¾ Não vai doer, florzinha. ¾ a enfermeira chamou-a pelo apelido, em uma forma irritantemente doce.
Demi fechou a cara em direção à mulher e rugiu:
¾ Cale a boca! ¾ Eddie gargalhou gostosamente. A mulher ficou estática. Uma mini ferinha!
¾ Uma mocinha não devia falar assim. ¾ a moça falou, colocando um elástico no braço estirado da menina.
¾ Vá se foder! ¾ o homem engoliu em seco e arregalou os olhos, tapando a boca da menina, que o olhou com os olhos risonhos. Ele puxou o lábio superior para dentro da boca, uma técnica que a menina percebeu que servia para se controlar. Era reconfortante, fazer a mesma coisa, por que as manias que ela pegou dele, o lembra.
A enfermeira enfiou suavemente a agulha em sua veia, fazendo a mesma sugar seu sangue. Demi não desgrudou os olhos do pai, e nem ele dos dela. A menininha de 10 anos de idade encheu os olhos de água, prendendo o lábio assim como as lágrimas; e assim como seu pai.
Quando a agulha saiu de sua pele; ela soltou o lábio, mas não soltou a mão de seu pai; deixou-o limpar suas lágrimas.
Observou a enfermeira tirar um pouco de sangue dele, assim como fez com ela.
Demetria não soltou a mão dele.
Quando chegou a casa, dormiu na cama de seu pai, agarrada ao homem; enquanto sua mãe se agarrava com outro, fora de casa.
Eddie não dormiu naquele dia, observou a menina; calma, agarrada ao seu braço forte e com as pernas enlaçadas as seu tronco.
Ele sorriu.
Ele sabia que ela era sua. E ao menos tempo que ela não era.
No dia seguinte, com o resultado dos exames em mãos, Eddie o abriu.
Eddie chorou. Quebrou tudo dentro de casa, irado de raiva; enquanto Demetria chorava escorada á porta do seu quarto.
Ela tinha só 10 anos, mas sabia o significado de exame de DNA.
E ela sabia o significado da ação do seu pai. Seu Eddie.
Demi não soluçava; o som dos objetos quebrando na sala eram seus soluços. Seu e do seu pai.
Ouviu sua mãe chegar.
Ouviu sua mãe gritar.
Ouviu sua mãe chorar.
Ouviu seu pai sair de casa e nunca mais voltar. ’’

¾ No que está pensando? ¾ Joe perguntou, enquanto esquentava a agulha no fogo e a esterilizava.
Tomei uma grande lufada de ar e limpei meus olhos para me certificar que não chorava. Soltei o ar.
¾ Nada.
Quando ele se virou, sorrindo e vindo até mim, puxei o lábio superior para dentro da boca.
Ele me explicou o que faria comigo, e eu idiota deixei!
Mas ele estava certo. Precisava ser feito.
Joe deixou a agulha em uma bandeja metálica, que me lembrava de hospital, e colocou as mãos na minha cintura.
¾ Venha. ¾ me ergueu, deixando-me sentada no balcão de novo.
Argh! Ele me manuseia como bem quer. Como uma boneca de pano. E com o cuidado de uma boneca de porcelana.
¾ Você não vai precisar de muitos pontos nessa bochecha, mas vai doer. Não tenho anestesia aqui. ¾ mordeu o canto da boca. Eu fiz careta, segurando firmemente a borda do mármore, buscando ser fria como isso que tenho em mãos. ¾ Mas vamos, eu sei que você é forte.
Oh!
Eu não estou certa disso, não.
Ele passou um liquido escuro da minha bochecha.
¾ Importa-se? ¾ falou, se referindo as minhas pernas devidamente fechadas. A distância do meu rosto dificultava para ele, e deixava-o sem jeito, desconfortável.
Balancei a cabeça.
¾ Não. ¾ separei um pouco as coxas. Ele ficou envergonhado. Eu gargalhei.
¾ Vem. ¾ puxei-o, com meus pés em suas costas, até ele ficar perto de mim. Sorrimos, corados.
Sua bochecha estava suja de sangue, e com uma coloração rosada. Eu ri. Ele estava tão fofo. Ele abaixou o olhar e viu minhas mãos agarradas ao mármore.
¾ Segure-se em mim. ¾ ele pediu, olhando firmemente em meus olhos. E eu obedeci como se não fosse um pedido, e sim uma ordem.
Minhas mãos se apossaram de suas costelas nuas, mas não estava frio como um mármore, estava quente. Quente como Joe.
Delicadamente, ele começou a perfurar minha carne com a agulha, e eu apertei minhas mãos em sua pele, e como uma agulha, minhas unhas perfuraram sua carne, enquanto eu fechava os olhos e travava minhas pernas envolta de sua cintura.
Oh foda-se! Isso dói como o inferno!
Ouvi seu sorriso enquanto terminava o serviço. É como um breve riso nasalado, e é isso, ele está sorrindo depois disso.
¾ Terminei. ¾ ele falou, minutos depois de tirar as mãos de mim.
¾ Terminou? ¾ não abri os olhos, mas tive vontade de arregala-los. ¾ Isso ainda dói! ¾era como uma forma de controlar a dor, de olhos fechados.
Ouvi-o fechando o kit de primeiros socorros que estava ao meu lado, no balcão, enquanto ele ainda permanecia aprisionado entre minhas coxas.
¾ Olha, eu não estou reclamando, mas será que dá para me soltar um pouquinho? ¾ nós rimos, e eu o soltei, abrindo os olhos. ¾ Preciso guardar a bagunça que fiz aqui. E em você. Precisa tomar banho e tirar esse sangue seco e pedacinhos de vidro que ainda ficaram em seu corpo. E eu vou comprar um anti-inflamatório na farmácia.
De novo, suas mãos pousaram em minha cintura e me desceram da bancada.
Eu fiquei olhando para seu rosto encantador enquanto ele não parava de falar.
¾ Tem toalhas novas e limpas no banheiro, pode usar o banheiro do meu quarto. Segundo andar, fim do corredor à esquerda. No meu closet tem roupas minhas, pode usa-las. ¾ ele ainda não tirou as mãos da minha cintura? ¾ Eu vou na farmácia comprar os medicamentos e volto logo. ¾ ele tirou as mãos da minha cintura. Volta! ¾ Eu ainda não fiz o curativo, portanto pode lavar o rosto, mas com cuidado para a água não cair diretamente no corte. ¾ele ia sair pela porta quando eu o chamei.
¾ Ei, tagarela. ¾ ele riu. ¾ Não tá esquecendo-se de nada, não? ¾ arqueei a sobrancelha, olhando para seu tronco nu.
Ele pensou.
¾ Estou? ¾ eu ri.
¾ Vai sair pelado na rua?
Ele olhou para o tronco. Depois para mim.
¾ Eu não estou pelado!
Revirei os olhos.
¾ Vá vestir uma blusa, homem!
Ele riu, e pegou uma blusa jogada no sofá.
Piscou para mim e saiu. Pela porta da frente.
Suspirei, rindo comigo mesma enquanto balançada a cabeça.
Depois algo me bateu.
A realidade.
(...)
Pense em mim deitada na cama casal de Joe, pensando enquanto ele faz um curativo na minha bochecha.
Pense em mim usando um casaco moletom. Só um casaco, pois ele é até a cima dos joelhos. Estou com calcinha.
Pense em mim calada olhando para o teto enquanto ele faz um curativo em mim.
Joe é casado.
Joe tem 28 anos.
Joe tem uma filha.
Isso não devia me chocar tanto, eu sei. Ele tem uma família! Isso devia ser bom; é bom! Mas não agora, não para mim.
Eu vou embora pela manhã; decido.
Essa decisão ardeu em meu coração.
¾ No que está pensando tanto? ¾ Joe pergunta, me trazendo a realidade. E eu percebo que ele já tinha parado de fazer o curativo há minutos, e estava me olhando.
Quero perguntar sobre a família dele, sobre o que elas vão achar. Sobre as roupas de mulher em seu closet, sobre o quarto de menina ao lado do dele. Sobre ele.
As únicas coisas que sei dele nem foi ele que me contou!
Eu só descobri por que eu também tinha isso!
Por que eu vi!
Por que eu estou na casa dele depois de ter acabado com a minha! Acabado com algo que nem era meu!
Levanto de sua cama repetindo para mim mesma: ‘’idiota, idiota, idiota... ’’
¾ Posso ficar no sofá durante essa noite? ¾ pergunto, com a voz tão baixa quanto meu orgulho. ¾ Eu vou ao amanhecer.
Ele levanta da cama rapidamente.
Ele ia falar algo, mas repensou e falou outra.
¾ Vai para onde? ¾ ele não ficava bem com essa blusa. Alias, com blusa nenhuma!
Eu pensei em pensar na minha avó, na minha tia, na minha família. Mas eu não tinha. Então eu menti.
¾ Eu tenho família, Joe. ¾ forcei um sorriso que eu tinha certeza que ia convencer. Sempre convence.
A gente continuou se olhando. Então eu desviei o olhar e desci as escadas. Vai que ele descobri o que estou pensando e descobri que eu menti...?
(...)
¾ Você precisa comer. ¾ ponto. Eu comi e agradeci. Voltei para o sofá, mas não dormir.
Joe me trouxe um travesseiro e um edredom. Eu sorri e ele subiu.
É isso.
Deitei no sofá e me cobri toda, deixando só o meu nariz para fora.
Pensei em pensar na minha família de novo, tentei; as únicas coisas que vieram em minha cabeça foram  minha mãe e meu pai que nem era meu pai!
Fechei meus olhos e tentei dormir, as luzes estavam apagadas. A casa estava escura. Ninguém poderia me ver.
Eu chorei.
Já estava tarde, o quarto de Joe é longe e no segundo andar, ele não conseguiria me ouvir.
Eu não consegui evitar. Um soluço irrompeu pela minha garganta, seguido de outro, outro, e muitas lágrimas.
Descobri apenas meu rosto, por que estava difícil respirar.
Chorei. Solucei.
Dormi.
Essa era minha única libertação.
Eu tirei todos os pedaços de espelho da minha pele, mas eu sentia que eles ainda estavam lá, me fazendo sangrar, me rasgando enquanto me mexo. 
Refletindo minha dor.
Acordei com a primeira luz do sol passando pela cortina.
Olhei para o relógio. Cinco da manhã.
Hora de ir embora.
Passei minhas mãos pelo meu rosto e fiz careta quando passei por cima do curativo. Não era só isso que doía.
Eu deixei um último soluço sair pela minha garganta.
Hora de acordar. Hora de enfrentar o mundo.
Ser forte de dia e fraca durante a noite.
Ser um muro para quem ver e desmoronar enquanto não veem.
Era para ser assim.
Levantei do sofá macio e olhei para porta.
Oh!
Joe estava lá. Escorado na porta, com os olhos vermelhos e com olheiras. Ele continuava lindo. Seu cabelo desgrenhado chamavam minhas mãos. Mas isso não ia acontecer.
Eu tinha que ir. Eu ia embora.
¾ Eu vou embora. ¾ avisei, calma.
Ele olhou para mim. Seus lindos olhos verdes estavam cansados.
¾ Não. Você não vai.
Oh!
(...)
¾ Que?
¾ Você não vai embora. ¾ repetiu.
Ora!
¾ Lógico que vou. ¾ cruzei os braços.
¾ Você nem sabe para onde ir! ¾ bagunçou o cabelo, parecia nervoso.
Fiquei calada.
Era verdade.
Mas eu não iria ficar. Eu não sou minha mãe.
¾ Não, eu não sei. Mas eu não vou ficar. Eu não posso! Joe, você tem uma família, e não serei eu a acabar com ela!
Ele arregalou os olhos, e rugiu:
¾ Ela já está acabada! Demi, pelo amor de Deus!
E foi ai que eu parei. Que?
¾ Que? ¾ perguntei, enquanto pegava minha calça que eu deixei no sofá e colocava. Qual é?! Não dava para ver nada! O casaco ia até o joelho praticamente!
Ele parou para observar. E depois olhou de volta ao meu rosto.
¾ Eu sou separado, Demetria. Desde que eu descobri que minha filha não era minha. ¾sua cabeça caiu.
Oh não!
Depois de colocar a calça, eu foi até ele e pousei a palma de minha pequena mão na bochecha dele que antes tinha meu sangue, e levantei, mergulhando meus dedos nos cabelos pretos dele.
¾ Quanto tempo? ¾ sussurrei.
Seus olhos penalizados caíram sobre os meus.
¾ Três anos.
¾ Quantos anos ela tinha? ¾ minha voz quase não saiu. Meus olhos mergulharam na imensidão dos olhos dele.
¾ Sete. ¾ eu finalmente consegui respirar.
Mas eu não falei mais nada. Peguei minha blusa e fui para a cozinha. Não queria continuar muito na casa dele. Vesti minha blusa e voltei para ele, que estava no sofá.
Não me aproximou dele. Fiquei na porta. Ele olhou-me.
¾ Ela sofre. Volte para ela, Joe. Vá procura-la. ¾ formou um nó em minha garganta.
¾ Por quê? Como sabe que ela me quer de volta?
¾ Por que era isso que eu queria que meu pai tivesse feito.
E sai pela porta. Olhando para casa do meu lado, a que antes eu chamava de minha. Eu não podia voltar lá. Eu não tinha para onde voltar!
Então eu apertei a minha jaqueta em minhas mãos, como eu fazia com a mão do meu pai quando tinha medo. E mordi o lábio superior, trazendo-o para dentro de minha boca, como eu fazia para me controlar quando eu queria chorar.
(...)
Sai andando pelas ruas até quando senti meus pés cansarem, então sentei na calçada.
Oh! Eu também estava com fome e com sede.
Certifiquei que na minha jaqueta tinha ao menos umas notas de dinheiro e deu para comprar apenas uma garrafinha de água e um almoço.
Eu não merendei.
Minha merenda foi minha dor.
E minha janta também.
Pensei em alguém para pensar, mas só vinha as mesmas pessoas de sempre.
Eddie.
Dianna.
E agora, Joe.
Mas eu não tinha em que pensar.
Eu não podia e nem iria voltar para nenhum deles.
Eu não tinha para quem ou para onde voltar.
Então eu segui em frente.
E dormi em algum lugar por ai.
Sempre com meu corpo refletindo minha dor.
(...)
Eu dormi em um parque.
Uma meninazinha me acordou.
Ela sorriu para mim.
¾ Oi. ¾ sorri.
¾ Oi. ¾ ela sorriu.
Olhei em volta e não tinha ninguém naquele parque. Ou melhor, tinha; mas todas já estavam com suas respectivas famílias.
Ela sentou do meu lado.
¾ Como se chama? ¾ perguntei. Ela era linda.
O cabelo era ruivo, enquanto o meu era preto e liso, o dela era ondulado. Os olhos dela eram castanhos claros, enquanto os meus, pretos. Ela era branquinha, como eu. Mas minha pele estava calejava, enquanto a dela novinha em folha. Ela vestia um vestidinho floral, verde, linda! Enquanto eu, a mesma roupa de sempre.
¾ Mellissa. ¾ sorriu. ¾ E o seu?
¾ Demetria.
Ela olhava meu curativo, e para agilizar o processo, eu falei para ela:
¾ Eu me cortei sem querer.
¾ E quem fez o curativo?
¾ Um amigo. Ele é médico.
Verdade. Ele me contou enquanto fazia meu curativo.
¾ Você gosta dele? ¾ perguntou, tocando minha bochecha machucada de leve. Eu ri. Menina esperta!
Mas quando eu ia responder, alguém chamou-a:
¾ Mel! Venha para perto de mim! ¾ uma mulher gritou, com um homem loiro do lado.
¾ Já vou, mamãe! ¾ gritou, e se levantou. ¾ Tchau, Demetria. ¾ acenou, sorrindo. Eu retribuo.
¾ Tchau, Mellissa.
E ela voltou para sua família.
E nessa hora eu pensei em voltar para a minha, mas eu me lembrei de que não tinha uma.
(...)
2 dias se passaram e eu continuava vagando, procurando meu lugar, nem sabendo qual era esse lugar! Mas eu continuava andando, mesmo fraca, por ter passado dias sem comer ou beber.
Nunca mais voltei para aquele parque.
‘’Tinha gente demais, lá. ’’. Essa era minha desculpa.
‘’Vão famílias demais, lá. ’’. Essa é a verdade.
Estava andando por ai, até que eu parei em um boliche e vi a seguinte placa: ‘’Contratam-se pessoas, não necessita experiência. ’’.
E eu entrei.
Aquela era minha chance.
Fui atendida por uma jovem, acho que da minha idade, morena.
¾ Posso ajudar? ¾ sua voz era meiga.
¾ Pode sim. Eu vi lá na placa que estão contratando.
¾ Acabaram as vagas, desculpa.
Quando eu ia saindo, a voz de um homem me chamou:
¾ Ei!
Virei-me. Era um homem de meia idade, charmoso. Ele sorria.
¾ Você é bonita.
Que? Eu estava 2 dias sem tomar banho ou trocar de roupa! A última coisa que eu precisava agora era de um elogio.
Ele percebeu.
¾ Oh. Desculpe. Meu nome é Charles Slow; o dono. ¾ ele esticou a mão para me complementar. Assim foi feito.
Ele parecia interessado.
É, eu também estava.
Não nele, claro! Qual é?! Ele já tinha seus quarenta anos e sua barriga uns 50! Ele merecia mais. E eu também.
¾ Prazer em conhecê-lo. ¾ tá. Eu estou um pó. Mas eu podia ser educada.
¾ Vou logo ao ponto. ¾ tirou sua mão da minha e passou pela sua careca, enquanto seus olhos me analisavam. ¾ Você está contratada.
Oh; sim.
Eu sorri.
Ele sorriu.
A atendente também sorriu.
É.
(...)
Faz quatro dias que eu estou trabalhando lá.
Emprego. Ok.
Almoço. Ok.
Tá, não era um almoço, era um lanche na lanchonete do boliche. Mas valia.
Charles era simpático, porém rígido.
Funbal. Sei que é um nome tosco, mas era o que era. O nome do lugar.
Uma tentativa falha de abreviar diversão com bola. Era patético. Mas era divertido. É; Charles conseguiu o que queria.
O lugar era amplo, preenchido com pistas de boliche de madeira devidamente lustradas. Na extremidade direita ficava o balcão onde a atendente que falei ficava ¾ Selena, descobri eu no mesmo dia que esse era o nome dela. Atrás do balcão, várias prateleiras de madeira ocupavam o lugar, e nelas, diversos sapatos com variados números. No lado esquerdo, ficava a cantina. Descobri que quem comandava ela era um menino lindo, alto e moreno, com os cabelos de anjinho cor de mel. Seu sorriso também era de anjo quando me entregava o lanche que pedi ¾que era sempre uma coca-cola grande, e tacos com bastante queijo. Era o céu na terra!
A gente não precisava e nem tinha um uniforme. Essa era a intenção. Já que o público do lugar é mais jovem, nada melhor do que as pessoas que trabalha lá ser do mesmo nível, não?
E nesse lugar todo, onde eu me encaixava? Na área das crianças, tem lugar melhor?
Três pistas menores são reservadas aos iniciantes. Mas é óbvio que os iniciantes não vão para lá! Por isso eu prefiro falar ‘’Área das crianças’’, e não ‘’Área dos iniciantes’’. E também, por que só vão crianças para lá. Bem, elas não vão. Elas são praticamente jogadas lá! Ou pelos irmãos mais velhos que são obrigados a ficar de vigia do mais novo, ou pelos pais ou mães sacanas que vão a um lugar, praticamente um refúgio dos jovens, para impressionar a mais nova(o) peguete, e dissimular a sua idade para ela(e). Ou para si mesmo. Creio mais na segunda opção.
É. Eu gosto do meu trabalho.
Bem, crianças de 7 á 10 anos é a faixa etária de quem eu cuido. Isso é minha fraqueza.
Elas choram, reclamam, batem o pé. Mas eu as animo. Elas gostam de mim. Por que eu provo e explico que os verdadeiros iniciantes não são eles, e sim quem está nas pistas maiores. Eles ainda insistem que ali não é o lugar deles.
Estão certos.
Todos eles.
Ali não é o lugar deles.
Ali não é o meu lugar também.
Pena que a vida não tem uma ‘’Área para iniciantes’’.
Por que se tivesse, eu gostaria que tivessem me levado para lá, ou até me jogado lá. Eu não me importaria.
Ao invés disso, me jogaram logo para a área de adultos. Jogaram-me na pista de boliche, entre os pinos, e não param de jogar bolas em mim, me derrubando incessantemente, e me obrigando a levantar para a próxima partida.
(...)
O problema do meu trabalho, é que eu ainda não consegui alugar um lugar para morar. O salário é pouco, e eu ainda não completei nem um mês para receber meu primeiro salário.
Ainda durmo na rua.
Ainda fico com a mesma roupa.
Mas tomo banho no banheiro do boliche.
¾ Demi. ¾ Charles chamou-me, ele parecia sério.
Dei uma bola de boliche de adulto a um menininho de 8 anos e ele estava tentando levantar.
¾ Algo errado, senhor Charles?
¾ Sim.
Oh!
Ele me levou para a sala dele, que ficava no fundo do salão.
Era simples, pequeno, mas privado.
Eu estava suando frio!
¾ O q... ¾ ele me interrompeu.
¾ Onde você mora?
Merda!

‘’ No dia seguinte ao incidente na casa de Patrick, os noticiários apitavam em meu ouvido.
¾ Dianna Lovato, foi presa ao confessar autoria de um assassinado na noite de domigo em... ¾parei de ouvir. Eu sabia onde era. Minha mãe estava presa!
¾ Dianna Lovato, após assumir ter assassinado Patrick Golden, um homem de 32 anos na qual morava junto com ela, ficará presa por 10 anos no presídio Bleyer Mouch. Após argumentar que foi legitima defesa, e confirmar isso ao mostrar marcas de cicatrizes de espanco, sua pena foi diminuída a metade. Concluindo assim, cinco anos de prisão.
Oh cristo!
Minha mãe foi presa.
E para assinalar meu choque, eu não fui citada! Minha mãe poderia dizer a versão completa do incidente, citando-me e se safando da pena de prisão. Mas não. Ela aceitou, foi presa, e nada mais foi dito.
Ela escolheu ser presa!
Por quê?
Ela estava se castigando!
Ela estava se castigando!
Ela estava se castigando!
E eu fiquei repedindo isso até entender.
Eu também queria estar presa. ’’

Fiquei olhando para a pança do homem sentado na cadeira a minha frente e pensando no que responder.
Céus! Ele devia fazer um regime!
¾ Em nenhum lugar, senhor. ¾ minha cabeça pesou, com as lembranças que tive na rua, mesmo por poucos dias. Minha testa se curvou e olhou para o chão.
Eu estava cansada.
Não dormia e nem comia direito.
Eu era o resto da minha dor. Ou ela por completo.
Pensei um pouco e concluir:
Eu sou o reflexo da minha dor.
¾ Como assim, em nenhum lugar? ¾ ele se chocou.
Tirei minha jaqueta e deixei ele ver minha pele machucada.
Eu estava um caco.
E foi exatamente esse caco que me cortou.
Eu não usava mais o curativo; estava velho. Os pontos arrebentaram, e ficou apenas uma cicatriz pequena.
Ele viu meu estado deplorável, mas esperou.
¾ Eu estava no incidente da Rua Blander. ¾ oh sim, ele sabe do que eu estava falando. Todos sabem do incidente da Rua Blander! Ele esperou. ¾ Minha mãe é a Dianna Lovato, a ‘’assassina’’. ¾ rolei os olhos. Ela era tudo, menos isso.
Quem o matou não foi minha mãe.
Quem o matou foi o espelho.
Quem o matou foram os reflexos da minha dor.
¾ Ela estava tentando me ajudar. ¾ eu não o olhava. ¾ Meu padrasto ia me espancar como faz com ela. ¾ agora eu o olhei, e pude ver seus olhos úmidos.
Não chore, seu velho barrigudo!
Essa dor é minha!
¾ Minha mãe quebrou o espelho e um caco de vidro cravou em sua nuca. Assim como em minha bochecha e em meu corpo. Ela me mandou correr, e eu assim o fiz. Desde então estou nas ruas. ¾ uma lágrima saiu de meu olho e acariciou a pequena cicatriz em minha bochecha.
Deixei-a lá.
¾ Mas ela não disse nada sobre isso. ¾ ele alegou. Mas eu sei que ele acreditou. Era a verdade. ¾ Se é como você diz, ela não precisaria estar presa. Ela preferiu ser presa a dizer a verdade.
¾ Eu sei. Ela queria se castigar. ¾ continuei: ¾ Eu também preferiria estar presa, se quer saber.
Minutos em silêncio. Ele me estudando.
Cansei de ser analisada.
Peguei minha jaqueta que deixei nas costas da cadeira e coloquei-a, saindo pela porta sem o olhar.
Acabou.
¾ Você não tem mesmo para onde ir? ¾ sua voz me parou.
¾ Não. ¾ minhas costas respiraram, e depois voltaram a cair. Eu estava acabada. Pareciam que estavam segurando e apertando minha glote.
Não larguei a maçaneta da porta e nem o olhei.
Ouvi-o levantar da cadeira e parar trás de mim.
¾ Fique. ¾ ele pediu, posando sua mão em meu ombro.
Isso basta.
Pense em mim segurando a maçaneta fria em minha mão.
Pense em mim em lágrimas.
Pense em mim puxando meu lábio superior para minha boca.
¾ Tudo bem.
Não. Não está tudo bem.
Irrompo pela porta e corro para a rua.
Corro.
Corro até cansar.
Me apoio em um poste e sinto minha pele oscilar, palpitando.
Sinto braços fortes me virar e me cobrir, apertando-me contra seu corpo forte.
Sinto o cheiro.
Nick.
Deixo-o me apertar a vontade, e subo minhas mãos para seus cabelos de anjinho.
Sim. Eu ainda sou mais baixa que ele.
Sim. Eu ainda estou sentindo seu cheiro.
Sim. Eu ainda estou com a cabeça enfiada em seu peito.
Aperto seus fios macios em minhas mãos; e ele sobe uma mão de minha cintura para minha nuca. Toma meus cabelos em suas mãos e aperta-os entre seus dedos.
Conto minha história para ele, ela sai abafada e em cortes, por que estou chorando e ainda permaneço com a cabeça em seu peito, e com minhas mãos em seus cabelos.
¾ Venha para casa comigo. ¾ ele sussurra. E eu sei que parece meu estranho e que eu não devia aceitar.
Mas eu aceito.
E isso é tudo.
(...)
No fim do expediente, dez da noite, Nick me pegou arrumando minha área e segurou minha mão, sorrindo para mim.
Ele me levou até sua casa, não era tão longe.
No caminho ele me contou que tinha 20 anos, e que arrumou seu cafofo com a herança que seu avô o deixou quando morreu.
Seu avô era um pai para ele, e ele perguntou sobre o meu.
¾ Eu não sei. ¾ e era verdade.
É. É isso.
Falei, puxando meu lábio superior para dentro da boca.
É.
Sua casa é bonita, tem uma varanda de madeira antes da porta, e as paredes são brancas. Ela tem dois andares. Todos da mesma cor, e belamente mobiliado. Branco com preto. Era simples, mas era lindo.
Era Nick.
¾ Você pode ficar com o quarto de hospedes. ¾ sorriu para mim. ¾ Considere essa casa sua, ok? Quero que você se sinta a vontade. E se insistir, eu lhe faço cocegas até assim ser. ¾ ele falava sério.
Eu ri.
Depois de meia hora mostrando-me a casa, ele me deixou no quarto de hospedes.
Não. Eu não ia ousar em chama-lo de meu.
Ele tinha um banheiro, e estava todo mobiliado como a casa. Preto e branco. O banheiro também.
Entrei nele e o tranquei. Certifiquei que tinha uma toalha limpa e nova ali, e entrei no chuveiro.
Oh!
Meus antebraços colaram no azulejo do banheiro, na frente do meu rosto, e minha testa ficou entre minhas mãos.
Fechei os olhos.
Quase dava para ouvir a água batendo em minhas costas e fazer ‘’tsc, tsc, tsc...’’
Ah!

‘’ ¾ Uma mocinha deve se portar corretamente, ok? ¾ minha mãe citava para mim.
Por favor! Eu nem havia menstruado ainda! Não era mocinha coisa nenhuma! Eu era criança. E era assim que era para ser.
Mas não era.
¾ Fellipe está chegando, Demi. Escolha: quarto, ou sala?
Era sempre assim. Eu escolhia entre ficar trancada no quarto e fingir que não existo, ou ficar na sala e conhecer o homem novo da minha mãe.
Eu sempre escolhia quarto. Óbvio! E ela sabia disso; por que eu deixava claro a minha antipatia para minha mãe.
Ela esperava ouvir: ‘’Quarto’’
Ela queria ouvir isso!
Mas não foi isso que entrou pelos seus ouvidos.
¾ Sala.
O que aconteceu, é óbvio!
Eu estraguei tudo!
E o que aconteceu a seguir foi mais óbvio ainda, e se repetiu por todos os anos seguintes, mesmo eu não escolhendo mais ‘’Sala’’. Ela não me dá mais essa opção. Ela não me dá escolha nenhuma!
Eu apanhei.
¾ Sua vagabunda! Como pôde fazer isso? ¾ ela estava com um cinto na mão. Com certeza de algum macho dela que deixou por lá.
O couro escuro bateu em minhas pernas. ‘’Tsc’
O couro escuro bateu voltou a bater em minhas pernas. ‘’Tsc’’
De novo. ‘’Tsc’’
De novo. ‘’Tsc’’
E de novo. ‘’Tsc’’
Mas o que eu podia fazer?
Por mais que ela pense que eu sou capaz, eu não sou. Eu não iria bater nela, e nunca vou.
De novo. ‘’Tsc’’
Minha perna sangrava.
Mas ela estava irada de raiva!
Ela não parava.
¾ Isso dói, sua vaca? ¾ ela falava entre dentes, enquanto continuava a me surrar. ¾ Dói? Diz que está doendo!
Não. Não era isso o que mais estava doendo.
Era meu coração.
Toda chicotada que ela dava em mim, se transferia diretamente para o meu coração.
Mas estava doendo.
Muito!
Eu pulava para tentar fazê-la errar alguma, mas ela só repetia:
¾ Isso dói, sua vaca? ¾ ela falava entre dentes, enquanto continuava a me surrar. ¾ Dói? Diz que tá doendo!
Eu já chorava. Muito.
E eu falei.
¾ Dói. Mãe, para! Está doendo, mãe! ¾ eu não parava de chorar.
Merda! Ela não era minha mãe!
Ela parou de ser a partir daquele momento. Não importa por qual motivo ela estava fazendo aquilo.
Ela parou de ser minha mãe.
E eu também parei de chorar.
Parei de tentar me esquivar ou colocar minhas mãos no meio para aliviar as chicotadas.
Mas por que eu não parei de ama-la?
O couro fez meu coração ir para minha pele, e ela que estava bombeando meu sangue agora. Ela oscilava como um relógio ‘’Tic, Tac, Tic, Tac...’’.
Não. Não era ‘’Tic, Tac’’
Era. ‘’Tsc, tsc, tsc, tsc...’’

Abri meus olhos como se estivesse levando uma chicotada, e em um solavanco sai da água, como se fosse fogo, e não água.
Argh!
Malditas lembranças.
Desliguei a torneira, e me olhei no espelho em cima da pia.
Vi o reflexo da minha dor.
¾ Demi! ¾ Nick exclamou. Ele estava no quarto. ¾ Deixei uma muda de roupa para você. Está em cima da cama. ¾  e saiu.
Suspirei.
(...)
2 semanas se passaram e eu recebi meu primeiro salário. Mas tinha mais que o esperado.
Fui falar com Charles.
¾ Eu recebi mais que o combinado, Charles. ¾ expliquei.
Ele sorriu.
¾ Digamos que é uma recompensa pelo bom trabalho. ¾ ele colocou as mãos em meus ombros. ¾ Sabia que você faz as crianças quererem voltar?
Eu percebi.
Mas fiquei calada.
¾ Vá reestruturar sua vida, Demi.
E eu fui.
Selena se tornou uma grande amiga para mim. Ela me emprestou roupas novas, e me cedeu uma grande amizade. Ela e Nick.
Chamei os dois para ir ao shopping, e nós fomos em um dia de folga.
Torrei a metade do meu dinheiro em roupas novas e sapatos.
Eu merecia me reestruturar.
Começar a cuidar de mim.
E assim eu fiz.
(...)
Se eu pensava em Joe?
Se eu pensava na minha mãe?
Se eu pensava em Eddie?             
 Sim. Mas o trabalho ocupava minha mente.
¾ Demetria! ¾ uma menininha ruiva veio até mim. Ela corria, se soltando da mão de um homem e vindo até mim.
Mellisa.
Eu abri um enorme sorriso, enquanto ela se espremia entre meus braços e agarrava minha cintura.
Foda-se! Eu senti muita saudade!
Essa menina me pegou de jeito.
¾ Mel! Por onde andou, gatinha? ¾ me separei dela, a olhando nos olhos.
¾ Eu conheci meu novo papai, Demetria.
Eu estava sentada em um banco baixo, e quando ela veio correndo até mim, ela se encaixou entre minhas coxas, e meu rosto só ficava um pouco mais alto que o dela.
Eu estranhei.
As pequenas mãos da menina se apoiaram em minha coxa, tentando sentar nela. Eu ri gostosamente, e a ajudei a subir.
¾ Sério? ¾ me fiz parecer interessada.
Eu aqui a procura do meu. E ela achou o dela.
Qual é?!
Eu não sou burra! Capto as coisas rapidamente desde aos 10 anos!
Não me culpe. Sei exatamente o que ela quis dizer com ‘’Meu novo pai.’’.
O original.
O biológico.
¾ Sério. ¾ uma voz vibrou atrás de mim, e eu não precisei virar para ver de quem era.
Joe.
(...)
Oh Deus!
Ele foi atrás dela.
Ele foi atrás dela!
Mellissa era filha do Joe!
¾ Gatinha, quantos anos você tem? ¾ ela mexia no meu cabelo.
Ela olhou para o lugar que antigamente ficava o curativo, na minha bochecha. Ela lembrou. E passou os dedos na minha pequena cicatriz.
¾ Ficou uma cicatriz aqui. ¾ ela balbuciou. Eu sorri.
Joe foi para minha frente e sorriu.
Era o mesmo sorriso que ele me deu quando eu olhei para ele na cozinha, depois de deixar meus sapatos perto do sofá.
Oh!
O brilho estava lá novamente.
¾ Gatinha, sei que você está entretida, mas me responde. ¾ brinquei com o nariz dela, e ela franziu o mesmo.
¾ 10. ¾ ela mostrou nos dedos.
Olhei nos olhos de Joe, que agora estava ajoelhado. Ele não mentiu.
¾ Eu não menti. ¾ ele falou, para reforçar.
Fiquei parada, com Mel em uma perna minha brincando com meu cabelo, e analisei a roupa de Joe.
Ele não ficava bem de blusa.
¾ Quer jogar boliche, Mel? ¾ voltando ao trabalho.
(...)
¾ É assim que se pega a bola, gatinha. ¾ eu estava curvada, tentando ensinar pela quinta vez a criança como ela devia pegar a bola.
Joe estava sentado em uma cadeira estofada, observando a cena enquanto ria.
Eu tinha muita paciência para crianças. Muita paciência, mesmo!
Mas foda-se.
Ele não era criança!
Grunhi, me levantando e virando para ele.
¾ Cale a boca, homem! ¾ vociferei.
Foi ai que ele riu mais ainda.
Aquelas gargalhadas de pender a cabeça para trás.
Merda! Por que ele não vai jogar?
¾ Demi. Aprendi! ¾ uma voz fofinha soou atrás de mim.
Virei-me.
Ela conseguiu!
¾ Olha ai! Minha mini ferinha arrasando! ¾ sorri, e ela riu, deixando a bola cair.
A gargalhada dela era como um chiado que começava com um grito e terminava silencioso.
Linda!
Não resistir.
Agarrei-a pelas costelas e trouxe-a para mim, soprando em seu pescoço, fazendo sua crise de riso aumentar. Agora ela ria em meu ouvido.
Oh!
Ela enrolou suas perninhas em minha cintura. Quando olhei-a no rosto ela ainda ria. Estava vermelha como o cabelo!
Meu sorriso se alargou.
Virei minha cabeça para Joe e lá estava o mesmo encanto.
¾ Acho que ela precisa de água.
Ele riu e veio até mim. Mas invés de pegar Mel de meus braços, ele parou atrás de mim, olhando o rostinho risonho dela e me abraçando por trás. Ah! Ele me puxou para ele pelas costelas e cheirou meu pescoço, deixando um beijo por lá.
Jesus.
¾ Ela não é linda? ¾ murmurou. Aquela voz foi de reto para minha espinha, e um arrepio tremendo a cruzou.
Olhei para cima, para seu rosto, e meus olhos pousaram em seu maxilar. Sua barba estava rala. Oh! Estiquei-me um pouquinho e dei um beijo em seu queixo.
Ele sorriu com os olhos para mim.
¾ Muito.
Dei Mellisa para ele e fui ajudar Ken, um menininho que quando me viu pulou em mim, beijando todo meu rosto.
¾ Demi!
Ri, segurando-o contra meu corpo e olhando para os pinos no fim da pista que ele estava usando. Restou apenas um pino.
¾ Olha! Meu namorado fez um grande progresso! ¾ ele sorria para mim, mexendo em meu cabelo.
Ken um dia sim e um dia não vinha para o Funbal, junto com o irmão mais velho dele. Era jogado aqui como a maioria.
Certo dia ele perguntou se eu queria namorar com ele.
Lógico que eu aceitei!
Ele me conquistou assim que eu o vi.
Marrento.
Carinhoso.
Sincero.
E a cima de tudo: carente. Muito carente.
Seus olhos verdes escuros seguraram os meus.
E seus cabelos loiros enlaçaram meu coração.
Ele tinha 9 anos. Ele era meu namorado. E eu a primeira namorada dele.
¾ Namorado, não! ¾ fez birra. ¾ Marido! ¾ suas pernas pousaram no chão, e ele me puxou para me ajoelhar. Eu ri alto.
¾ Marido? Onde você viu essa palavra, Ken? ¾ sentei no chão, puxando para o meu colo. 1 pino restou. Ele aprendeu rápido.
Ele encostou sua cabeça em meu ombro.
¾ Ouvi minha mãe que ia arrumar um novo marido, para substituir meu pai.
Oh!
Fechei meus olhos fortemente e puxei meu lábio superior para minha boca. Eu queria chorar, gritar, espernear.
¾ Você nunca vai arranjar um novo marido, não é mesmo, Demi? ¾ ele olhou para mim, seus olhinhos marejados.
Olhei para o lado, para ele não notar as lágrimas em meus olhos. Mas outra pessoa notou.
Joe.
Ele estava perto, sentado com Mel. Ele olhava para mim e Ken desde o inicio.
Ele ouviu a conversa.
Virei para Ken e falei:
¾ Não, meu marido. Eu não vou.
O menininho sorriu para mim e segurou meu rosto entre as suas mãozinhas, beijando meu nariz e pulando do meu colo, indo jogar.
Pendi minha cabeça para trás e fechei meus olhos, tentando relaxar.
Uma sombra apareceu na minha frente.
Reconheci o cheiro.
Sorri de olhos fechados.
Nick.
Abri os olhos.
¾ Hora de ir embora, mocinha.
Levantei meus braços, mas ele não os capturou. Suas mãos vieram para minhas costelas e me puxaram para ele, me fazendo chocar com seu corpo.
Ele sabia do que eu precisava.
Então me abraçou.
Como da primeira vez.
E eu me deixei perder em seu corpo, como da primeira vez, cheirando seu peito.
Subi meus braços para seus cabelos e os apertei. Nick desceu suas mãos para minha cintura e me apertou mais ainda. Seus lábios sorridentes vieram parar na minha bochecha, varrendo a mesma com sua maciez, beijando minhas lágrimas.
¾ Deixe vir. ¾ ele sussurrou.
E eu deixei.
Deixei seu corpo me cobrir, enquanto eu molhava sua blusa.
Depois de minutos na mesma posição. Eu olhei para seu rosto sem restrição e sem medo. Deixei-o limpar minhas lágrimas e me levar para sua casa.
Joe não estava mais lá.
E muito menos Mellisa.
Ele foi atrás de reconstruir sua família, e eu não vou lhe atrapalhar.
(...)
2 semanas se passaram e eu estava na mesma.
Conversava com Charles todo dia e o fazia companhia no almoço.
Isso se repetia todo dia.
Até aquele.
Recebi uma notícia que me fez cair no chão.
Charles morreu.
Pense em mim em sua sala.
Pense em mim sozinha.
Pense em mim sentindo seu cheiro de madeira que empestava sua sala.
Pense em mim acabada, e acabando seu piso de carvalho com murros e lágrimas.
¾ Não! ¾ repetia em meio a lágrimas. ¾ Não! Não! Não! ¾ Oh! ¾ Volte para mim, seu velho barrigudo!
Eu não me importava se as pessoas do salão poderiam ouvir meus berros e minhas lágrimas.
Minha garganta pedia arrego. Mas eu queria fazê-la sangrar como meu coração.
Dolorida por dentro.
Eu sentia-me surrada a cada batida do meu coração.
Ele surrada o espelho da minha alma. E eu sentia que ia explodir já, já.
Meu coração estava em erupção!
Selena rompeu pela porta e se ajoelhou perto de meu corpo convulsionando no chão do escritório de Charles. Eu convulsionava a cada batida de meu coração.
Ela prendeu meus punhos que martelavam o chão, como se eu mesma batesse em meu espelho. E me abraçou. Mesmo eu gritando em seu ouvido parar de me abraçar. Ela me prendeu contra seu corpo magro e eu convulsionei novamente.
Eu não podia perder mais alguém.
Não podia!
¾ Eu não posso perder mais alguém, Selena! ¾ gritei a todos pulmões. Ela chorava fogo.¾ Não posso! ¾ meu peito subia e descia pesadamente contra seu colo. ¾ Ele cuidou de mim, Selena! Quem vai cuidar agora? Quem? ¾ eu me perguntava, ao mesmo tempo que perguntava a ela.
¾ Eu. ¾ respondeu entre lágrimas. Ela agora olhava para mim. ¾ Eu vou cuidar de você, maninha. ¾ ela chorava tanto quanto eu.
¾ Eu também. ¾ Nick apareceu na porta. Seu rosto estava lavado em lágrimas.
Fiquei sem falas.
Mas logo depois comecei novamente.
¾ Eu quero ele, Nick. ¾ funguei. Selena ainda prendia meus braços aos lados da cabeça. Eu estava mais calma. ¾ Eu quero ele, Selly. ¾ chamei-a pelo apelido, apelando a olha-la nos olhos.
Ela me soltou.
¾ Todos nós queremos, Demi. ¾ e saiu.
Olhei para Nick e ele sabia do que eu precisava agora. Ficar só.
Com um aceno de cabeça ele foi embora.
Com um suspiro, virei para o lado.
Chorando agora em silêncio.
A imagem de Joe veio na minha frente.
Levantei e olhei pela janela da sala. Meu rosto ainda estava em brasas, como meu coração.
E lá estava Joe, com a filha dele.
Ambos estavam inertes ao que havia ao redor. Estavam jogando boliche na pista para adultos.
Enquanto Mel jogava, Joe endireitou a coluna e olhou para a janela na qual eu estava.
Ele não sorria.
Olhou bem para meu rosto e afirmou com a cabeça. E eu soube.
Sim.
Ele também cuidaria de mim.
(...)
No dia seguinte, o Funbal não abriu.
Junto conosco, ele também estava de luto.
Nick saiu de manhã, e de tarde chegou em casa.
¾ Demi? ¾ me chamou.
Desci as escadas rapidamente e olhei-o.
Ele estava acabado. Todos nós estávamos.
¾ Onde estava?
¾ Um advogado me ligou e me pediu para encontra-lo. Era o advogado de Charles. Ele me pediu para entregar isso a você. ¾ do casaco, ele tirou uma carta branca, com o meu nome rabiscado com uma caligrafia rabiscada e relaxada, que eu reconhecia bem.
Charles.
Peguei a carta entre meus dedos e ela parecia que ia desmanchar. Subi para meu quarto e sentei na cama, pensando em abrir.

Olá, Demi.
Se você está lendo isso, é por que não estou mais entre vocês. Não estou mais ai para cuidar de você, minha pequena fera.
Sei que você deve estar puta da vida comigo, por eu ter partido de uma hora para a outra e sem aviso prévio. Sei que lhe devo explicações, e a todos vocês. Então vou lhe contar, nessa carta que entreguei ao meu advogado para ele lhe entregar quando eu morrer. E conto com você para repassar para os outros, ok? Sei que vai ser doloroso, mas dou essa missão para você, por que sei que você é forte suficiente para isso. E foi a partir da força que encontrei em você, desde quando botei meus olhos em você, perguntando se ainda tinha vaga no Funbal, que me deu força e vontade suficiente para viver o resto dos meus dias. E você os fez valerem a pena.
Na verdade, não tinha e nunca teve vaga de emprego. Era só uma ‘’pesquisa’’ que eu estava fazendo para ver quantos jovens gostariam de trabalhar no local. 103. Esse foi o número. 103 jovens perguntaram se ainda tinham vagas, e outros adultos. Mas eu só estava contando os jovens. Você foi a 104. Desde aquele dia, 104 é meu número da sorte. Vi em você o que eu não vi em todos os outros que passavam por ali. E não me pergunte o que foi, por que até eu não sei.
Você não é só uma ótima trabalhadora, como também uma ótima pessoa. Você é simplesmente apaixonante. E eu lhe agradeço por ser a ultima paixão de um velho barrigudo como eu. Sim, eu lhe escutava resmungar e me chamar assim. E eu amava. Pois isso significava que eu era SEU velho barrigudo. E você minha pequena ferinha.
Você deu vida e fez aquele lugar crescer. E se quer saber, eu lhe amei até meu ultimo suspiro. Você foi minha criança; a criança que nunca tive. E me deixou lhe tratar assim. Deixou-me cuidar de você. Confiou a esse velho barrigudo seu coração jovem e cheio de cicatrizes.
A 6 meses, descobri que a qualquer momento poderia ter um ataque cardíaco e morrer. Chocante? Nem tanto para alguém gordo e solitário. Eu sabia que poderia morrer. Eu sabia que ia morrer! Ou de solidão ou pelo meu próprio corpo cansado. E todo esse tempo, eu fiquei na dúvida... Por quem eu morreria primeiro? De desgosto por ser um velho sozinho, ou pelo meu corpo traidor?
E veio você e me tirou essa dúvida. Eu não morreria de solidão. Por que você a tirou de mim. Quando eu soube da sua história, soube que a vida valia a pena, e já que eu, apenas um gordo solitário, não estava lutando pela vida. E você, uma jovem, linda, mas calejada pela vida e que ainda tem muito para sofrer, estava! Eu vi que devia lhe ajudar. E que ao mesmo tempo, isso seria a minha ajuda. Ajuda para mim mesmo. Começar a viver e não ficar sentado esperando minha morte. E eu vivi. Todos os momentos que eu passava com você, e que você falava ou resmungava de mim. Você me fez viver novamente, me fez sentir-me vivo. Sentir que ainda servia para alguma coisa!
Mas eu sabia que meus dias estavam chegando. Vivia com meu coração apertado. E não era psicologicamente, era fisicamente! Eu sentia isso! Tinha falta de ar constantemente e devia continuar a viver com um aparelho pendurado em mim. Ou optava por uma cirurgia para tentar desentupir as veias do meu coração. Eu sabia que folgadamente poderia arcar com as duas coisas. Mas eu não queria! Por que do mesmo jeito que o aparelho ficaria preso a mim, minha dor também ficaria. E mesmo se os médicos conseguissem desentupir minhas veias/artérias, ou diabos que seja; eu continuaria sentindo dor. Não fisicamente, mas agora psicologicamente. O que é muito pior. A cirurgia era de risco, muito grave, principalmente para um homem como eu. Eu não iria fazer nem amarrado pelos ovos!
Nessa hora, eu ri entre as lágrimas que banhavam meu rosto.
Nessa hora, eu comecei a pensar em quem pensar. E a única pessoa que eu pensei foi em você. Por que você é a única pessoa que eu tenho. Tirando Nick e Selena, óbvio. Mas eles não eram para mim o que você era. Eles não precisavam de mim como você precisa. E não precisaram de você como eu preciso. Para me sentir vivo.
Portanto, pensei em o que fazer no resto de meus dias. E decidi que iria escrever essa carta, e entregar tudo a você.
Deixo tudo para você, Demetria Lovato. Minha filha de consideração. Minha filha da dor. E sim, Demi. Eu vi os reflexos da sua dor. Olhando para você, me olhei no espelho da sua alma e vi que em algum lugar, eu estou ali. Somos presos no mesmo lugar. E toda vez que você sentir minha falta, ou precisar de mim, pode colocar sua mão ali, por que eu também vou colocar a minha. E mesmo morto, eu irei me sentir vivo.
Demetria, quero que entre em contato com meu advogado, o telefone dele está anexado nesta carta, e tome posse de tudo o que deixei para você. Tudo. Absolutamente tudo! Entendeu? Casas, carros, Funbal... Enfim. Tudo que um dia foi meu, agora será seu. Aceite! Faça disso não a minha ultima felicidade, mas a minha primeira de muitas. Seja feliz, Demetria. Você merece. E essa será a minha felicidade.
Não sentirei saudades, e não espero que você sinta minhas, entendeu bem? Por que eu sempre estarei com você, e você sempre estará comigo.
Com amor,
Seu velho barrigudo.

Oh céus!
Estou em lágrimas!
Quando elevo minha cabeça, Nick está me olhando, escorado na porta. Não consigo falar nada, foda-se, Charles! Eu não sei ao certo se era forte o suficiente para isso. Eu não conseguia nem abrir a boca, imagine falar sobre a morte do velho.
Meu velho barrigudo.
Mas por ele, eu puxei Nick para um abraço como sempre.
E lhe contei, como da primeira vez.
As palavras saiam molhadas pelas lágrimas, e abafadas pelo casaco de Nick. Mas isso foi o suficiente para ele entender.
(...)
Não fui para o enterro de Charles.
Nick e nem Selena muito menos.
Decidimos sair e ir para um cinema.
E assim, eu sabia que meu velho estaria feliz.

Acabou que Nick e Selena não viram o filme. E eu fiquei de vela. No meio do filme, quando a mocinha ent... Quem quer saber? Nem eles quiseram! Eles estavam lá, no maior beijão. E eu só olhando o filme, atenta a tudo que acontecia e a morte da mocinha, para não correr o risco de olhar para o lado e ver meus dois melhores amigos no maior rolo. Eu e Charles sempre sabíamos que iria rolar alguma coisa entre os dois, e estávamos certos, só não sabíamos quando.
E foi logo hoje!
É; esse foi o jeito deles de homenagear o velho.
Eu toquei no meu coração, no espelho da minha alma.
Esse foi meu jeito de homenagear o meu velho barrigudo.
(...)
No dia seguinte, eu fui me encontrar com o advogado de Charles.
Ele tinha na media uns 30 anos de idade, e me repassou tudo o que Charles tinha deixado para mim, o que era absolutamente tudo dele.
O velho não tinha família, e eu era como uma filha para ele. Portanto, ele deixou toda sua herança para mim, incluindo carros, casas, o Funbal, apartamentos que ele construiu e aluga. O homem era rico! Logo, eu sou rica!
Eu me senti tonta e com vontade de vomitar, sair correndo dali e não voltar nunca mais.
Mas eu fiquei. Por Charles.
E depois de 2 meses, consegui restabelecer minha nova vida, vender a casa de Charles e comprar uma nova para mim, reabrindo assim, o Funbal. E ele estava a todo vapor!

(...)

Minha nova casa é perto do Funbal. Tinha 3 andares, sendo o terceiro dedicado a somente eu e Charles; um espaço amplo e revestido de espelhos, com o piso de carvalho e só. Era isso que eu queria. Venho descontando meus picos de emoções na dança, e é assim e lá que eu venho levando a vida. Dançando para Charles, observando os reflexos da minha dor.
Penso em Joe todo o dia, e me culpo por isso. Ele agora tem uma família, e eu não devo me meter nisso.
Mellissa vai me ver todo fim de semana lá, mas sem Joe. Ele fica distante, me deixando curtir a menininha até ele decidir ir embora sem nem mesmo me cumprimentar.
Fiz um laço afetivo com Mellissa, que nem eu mesma consigo explicar.
Mas eu quero saber mais dela. Ou talvez isso seja só uma desculpa para eu saber mais de Joe.
Vou para meu quarto no segundo andar e tomo banho, pensando agora em minha mãe. Eu quero muito ir visita-la, mas ainda não é a hora. Eu sinto isso. E por mais que eu esteja rica agora, eu sinto como se eu chegasse lá de mãos abanando.
(...)
Selena e Nick são os vici-donos do Funbal, e eu sou muito grata a isso. Pois com os alugueis, as casas e os carros, eu ainda estou tentando me organizar, e enquanto isso, eles cuidam do boliche para mim.
Estou com saudades de Ken. Do meu marido. Olho para o painel do carro e vejo que hoje é sexta-feira. Ele deve estar lá. Acelero o carro e vou para o boliche. A procura do meu marido, eu não o acho em lugar nenhum. Mas meus olhos caem sobre algo particularmente interessante.
Joe.
Mellissa.
E uma mulher loira.
A mulher era linda! Alta, magra, com os olhos verdes, e vestia um vestido, com salto preto. Muito para um dia de boliche, eu sei, mas isso não justificava os meios; ela era de tirar o fôlego.
Isso me fez olhar para mim mesma.
Oh!
Eu era baixa, não era magra nem gorda, eu tinha carne. Meus olhos são castanhos escuros, e eu visto uma blusa branca lisa, de mangas longas e uma jaqueta de couro, junto com calças jeans pretas e botas cano longo, de salto fino. E mesmo assim, ainda sou baixa! Isso era praticamente uma calunia! Eu sentia como uma! Ela estava deslumbrante e eu... Pera! Por que estou me comparando?
Quando balanço minha cabeça e tento focar a realidade, algo baixinho e ruivo cutuca minha coxa.
Oh!
Mel.
Sorriu imediatamente e puxou-a para mim, cheirando seu pescoço.
Ah! Como isso é bom!
¾ Mel! ¾ uma voz fina soou, chamando pela menina em meus braços. Ela bufou em meu pescoço.
¾ Oi, mãe. ¾ ela falou preguiçosamente, tirando sua cabeça de meu pescoço e deslizando para o chão.
¾ Que intimidade é essa com a dona desse lugar? ¾ a mulher perguntou. Eu quase me encolhi. A voz da mulher era bizarra.
Joe surgiu atrás da mulher, pousando suas mãos na cintura dela. Oh! Desviei o olhar daquela região e olhei para o salão, onde vários jovens brincavam por lá. Encontrei Selena me olhando.
¾ Dona do Funbal? ¾ Joe estranhou.
¾ Sim, querido. Meu esposo é o advogado do falecido Charles, o antigo dono. Ele deixou tudo para Demetria. ¾ céus, advogado não devia ficar de boca fechada?
Agora eu me encolhi, pendendo meu corpo no salto das botas. Joe olhava-me atentamente. Eu já estava corada. Sorria apenas para socializar.
¾ Ãnh... ¾ o que eu iria falar? O clima estava tenso! ¾ Tenho que dá umas checadas por...¾ girei o dedo pelo lugar. ¾ ai. Foi um prazer conhecer...
¾ Blanda. ¾ ela sorriu. Seu sorriso estava começando a me dar nojo. Seu sorriso era de nojo!
Quando olhei para Joe, a única coisa que eu podia pensar era em como ele poderia sair com uma mulher como essa. Quer dizer, ela estava noiva!
E foi ai que eu me lembrei: Eles eram uma família.
Girei os calcanhares e foda-se! Eu não estava mais com vontade de ‘’olhar o local’’. Eu queria ir embora! E foi isso que eu fiz.
Quando cheguei em casa, dancei para meu velho. Dancei para mim. Dancei para os reflexos da minha dor.
(...)
¾ O que está fazendo aqui? ¾ perguntei, surpresa, depois de abrir a porta de casa e dar de cara com Joe.
Agora era eu que estava quase sem blusa.
Qual é?! Eu estava dançando! Suando! Estou usando um top azul escuro e um short curto, preto, de legging. 
E como diabos ele soube meu endereço?
¾ Selena me deu o endereço. ¾ Ah! Seus olhos passeavam pelo meu corpo, e eu sentia cocegas. Mas era bom. ¾ Posso entrar? ¾ ele finalmente olhou em meus olhos. Ele estava corado. Lembrei-me do meu sangue lá, mas não estava mais.
¾ Claro. ¾ dei espaço para ele entrar. ¾ Quer beber algo?
Ele ficou parado no meio da sala.
¾ Não, brigado. ¾ o que ele queria, Jesus?
Fiquei em sua frente e cruzei os braços.
¾ O que quer, Joseph?
Não me entenda mal, eu não estava sendo mal educada ou bruta. Apenas fui direta. Eu sou assim.
¾ Você. ¾ simplesmente isso.
É; ele também é bem direto.
(...)
¾ Jo... ¾ ele não me deixou falar, ele me interrompeu! Bem... Não foi bem uma interrupção. É que suas mãos grandes e frias na minha cintura nua e quente, tiraram minha fala.
Ele me puxou com uma facilidade para ele, que eu apoiei minhas mãos em seus peitos, me firmando.
¾ Vem. ¾ ele me ergueu e me colocou em cima do sofá, me fazendo assim, ficar de cara a cara com ele.
Joe sorriu lentamente e acariciou minha bochecha. Acariciou minha cicatriz pequena, e depositou um beijo já.
Ah!
Eu tinha que me focar e ir até o fim.
¾ Você tem uma família, Joe. ¾ pera. Isso era para ser uma justificativa ou uma desculpa?
Eu não sei como isso soa.
Acho que é os dois.
¾ Lógico que não tenho, Demetria! ¾ suas mãos ainda estavam em minha cintura. ¾ Eu tinha, Demi. Tinha! Agora eu tenho apenas uma filha.
¾ Mas e aquela mulher? ¾ embirrei, fazendo carinho nos cabelos de sua nuca.
Essa intimidade fluía entre nós.
Joe beliscou meu umbigo.
¾ Foda, Demi! Ela é a mãe da minha filha! ¾ ele bufava.
¾ Me conte mais sobre isso. ¾ mudei o peso do meu corpo para outra perna.
Mas ele não me deixou sustentada por muito tempo. Colocou um braço por trás dos meus joelhos e outro em minhas costas. Sentou-se no sofá e me colocou em seu colo, de lado.
Oh! Rápido.
¾ Sempre soube onde minha filha e minha ex mulher esteve e moravam, mas nunca tive coragem de ir lá. Quando você saiu da minha casa naquele dia, fiquei devastado. Decidir procurar Blanda e começar a conviver com minha filha. Entrei com uma ação no tribunal, e consegui a guarda de Mellissa. Já que sua mãe não fazia muita pena de ficar com a menina, o processo não demorou muito, e ela veio para mim. Estou com ela desde então. Blanda quis ver a menina e eu não intervir. Ela é mãe dela. ¾ isso era uma merda de uma justificativa? Ele não precisa me dar uma! Mas eu sinto que mereço. Esperei ele me procurar todo esse tempo, mesmo sem esperar.
Ele não procurou.
Eu sei que ele não precisava. Assim como a merda dessa justificativa.
Eu sei.
Mas eu queria que ele me procurasse.
Ou talvez, eu queria que Eddie me procurasse!
Oh merda! Eu sempre quis! Isso só era uma merda de uma desculpa.
Eu queria que Joe me procurasse.
É isso.
Enquanto ele falava, sua mão me sustentava pelas costas e outra pousava em minha coxa.
¾ Você não precisa me dar uma justificativa. ¾ falei, saindo de seu colo e me sentando em outro sofá, olhando meus pés.
Merda. Eu nem o conheço direito!
¾ A gente nem se conhece direito. ¾ finalmente o olhei, o mesmo estava cabisbaixo, me olhando como se eu estivesse fugindo dele.
E verdadeiramente estava.
Mas não por que eu não o conheço, e sim por que eu o quero conhecer.
¾ Eu te conheço. ¾ isso me fez erguer uma sobrancelha. Serio isso?
¾ Você é Demetria Lovato, tem 17 anos e já terminou os estudos. Não usa vestido e ama preto. Gosta de frapuccino com waffle tradicional, e é um mistério. Agora, atual dona do Funbal, visivelmente muito bem financeiramente, se dá muito bem com crianças. E continua um mistério.
Oh.
Meu queixo caiu.
Ele é um tarado e anda me seguindo?
¾ Você é um tarado e anda me seguindo?
Ele riu gostosamente.
¾ Claro que não. ¾ ele corou. ¾ Eu apenas lhe observo muito.
Agora foi minha vez de corar.
O que?
¾ Hum. ¾ o que eu falaria? Obrigado? ¾ Eu não continuo um assim mistério como você diz, sabendo tudo isso de mim.
¾ Você sabe, Demi. ¾ ele argumentou: ¾ Isso não é nada sobre você.
Ele tinha razão.
¾ Eu não sei nada sobre você. ¾ tentei mudar de assunto.
¾ Por que você não quer.
¾ Isso não é verdade.
¾ Isso que você diz também não é verdade.
Certo.
¾ Seu nome é Joseph Jonas, tem 28 anos, tem uma filha linda e é separado de sua esposa.¾ ele me corrigiu:
¾ Ex-esposa. ¾ frisou bem, com direito até a dedinho levantado.
¾ Tá. Ex-esposa. ¾ corrigi ¾ É médico geral, e não gosta de vestir blusa. ¾ rimos ¾Acertei?
¾ Oh, sim. Você acertou. ¾ depois de um tempo ainda rindo, paramos e ficamos sem jeito, em silêncio, sem falar nada.
Rimos de novo?
¾ Viu? A gente se conhece. ¾ ele tentou.
Ergui uma sobrancelha.
¾ Você sabe, Joe. ¾ o imitei. ¾ isso não é nada sobre nós.
Gargalhamos.
¾ Sim, é. Sobre mim é. É só isso.
Fiquei surpresa.
¾ Sério? ¾ perguntei.
¾ Sim, sério. Minha vida nunca teve tantas emoções. Só o que você já sabe.
¾ Você tem sorte. ¾ confessei.
¾ Não, não. Você! Você tem sorte.
Hum... Algo a pensar.
¾ Por mais que seja ruim, ou difícil, Demi. Considere isso como uma sorte. ¾ Hãn? ¾ Ao menos você vai ter algo para lembrar. Ou para contar.
¾ Isso é algo para pensar.
¾ Sim, é.
Silêncio novamente. E nesse intermédio de tempo pude perceber que ele considera Mellissa com filha. Minha.
Eu queria que Eddie me considerasse como filha mesmo depois de saber o maldito resultado daquele teste de DNA.
Eu queria que ele ainda me chamasse de minha.
Minha florzinha.
¾ Sobre o que você me contou sobre antes de sair da minha casa. Pode me contar mais sobre? ¾ Joe perguntou, e eu soube que esse era o real motivo de sua visita.
Ele não me queria.
Alias, quem me quer?
Ele só queria a verdade. A minha verdade!
E eu queria o dar. Assim como a mim mesma.
E eu sabia que quando eu contasse ali seria o fim. Ele já teria o que ele queria e nunca mais me procuraria.
E mesmo sabendo disso; mesmo querendo que ele voltasse! Eu decidi contar.
Eu queria que alguém tivesse contado a meu pai antes.
E por isso eu o contei.
Ali. Com mais ou menos 4 metros separando o sofá que eu estava sentada de frente a ele. Eu contei.
(...)
¾ Desde quando me entendo por gente, meu pai se chamava Eddie Kennedy. Ele era meu pai. A gente era carne e unha; ele foi minha primeira paixão. Quem não se apaixonaria por Eddie Kennedy? Eu sei quem. Minha mãe. Ela vivia o traindo. Ela só queria curtir a vida com um homem atrás de outro. Era meu pai que cuidava de mim quando minha mãe não estava em casa ou chegava à mesma bêbada depois de muita farra. Então meu pai começou a desconfiar que eu podia ser um fruto de uma traição. E com 10 anos, nós, os dois mosqueteiros, fomos fazer um exame de DNA. Eu podia ser nova, mas não era burra. Sabia o que significava, e sabia qual era a verdade. Ele também sabia. E quando veio o resultado, os objetos caindo no chão por meu pai estar irado de ódio depois que meu pai abriu aquele papel, foi a confirmação. Eu era fruto de uma traição. Meu pai já não era meu pai. E eu já não era a filha dele. Ele saiu de casa e nunca mais voltou. Deixou-me sozinha, chorando, e com uma louca dentro de casa que além de quebrar as coisas dentro de casa, e fora dela, quebrava o que tinha dentro e fora de mim também. Meu coração, e meu corpo. ¾ traguei o ar. ¾ Agora era só eu e ela. Uma menina de 10 anos sem pai e tentando se defender sozinha da mãe, e eventualmente dos homens que ela trazia para dentro de casa. ¾ não, eu não chorava. Mas meus olhos estavam vermelhos e minha garganta ardia a cada palavra que eu dizia.
Olhei para Joe e ele olhava para o couro do sofá. Penalizado por ter me feito falar sobre tudo isso. Mas eu não estava com raiva dele. Eu só queria acabar logo com tudo isso. Era isso que ele queria. É isso que ele vai ter.
Eu estou lhe batendo com minhas palavras.
¾ O que mais quer saber? ¾ curta e grossa.
¾ Como foi parar na casa do Patrick? ¾ ele foi curto, nas sua voz mal saiu.
¾ Ele era mais um dos machos da minha mãe. ¾ revirei os olhos. ¾ A cada homem que ela arranjava, era uma nova casa para morar. Éramos-nos quebradas. Não só fisicamente como financeiramente.
¾ O que aconteceu lá dentro? ¾ ele perguntou quando eu terminei.
¾ Eu estava me arrumando para sair. O quarto em que ficava tinha uma parede revestida com um espelho enorme. Minha mãe ameaçou me bater novamente, e daquela vez não deixei. Começamos a gritar e Patrick veio para cima de mim. Ele ia me bater assim como fazia quase toda noite com minha mãe. Minha mãe percebeu isso, e em um ato de medo, quebrou o vidro.¾ o olhei. Ele me olhava, sério.
Ele conseguiu.
¾ Depois disso, você já sabe o que aconteceu. ¾ marquei meu maxilar e me levantei do sofá. O deixei dar uma ultima olhada em mim e falei: ¾ Se isso é tudo que queria, você sabe onde fica a saída.
E sai.
Subi as escadas e escutei a porta da frente se fechar.
Me analisei no enorme espelho do terceiro andar.
Olhei para os reflexos da minha dor e comecei a dançar, lavada em lágrimas e chorando enquanto danço.
Danço para Charles.
Danço para Eddie.
Danço para Dianna.
E agora não mais para Joe.
(...)
No rádio que tenho nos fundos do salão, começa a tocar Mirror, do Justin Timberlake. E a essa hora, meus pés estão faiscando contra o piso de madeira. E eu sinto que alguém está me observando, e decifrando essa música para mim.
Charles?
Dianna?
Eddie?

Mas não é que você é algo para admirar?
Porque o seu brilho é algo como um espelho
E eu não posso deixar de reparar
Você reflete neste meu coração
Se você um dia se sentir sozinha e
A luz intensa tornar difícil me encontrar
Saiba apenas que eu estou sempre
Do outro lado, paralelamente

O suor dança em meu corpo, enquanto me movimento em movimentos bruscos, seguindo o ritmo da música.

Porque com a sua mão na minha mão
E um bolso cheio de alma
Posso dizer, não há lugar aonde não podemos ir
Ponha apenas a sua mão no vidro
Estarei aqui tentando puxar você
Você só tem de ser forte

Minhas lágrimas também dançam.
Meu coração também dança.
E eu caiu.
Desabo no chão deixando todas minhas lágrimas sairem de meu corpo furado.
Com os joelhos no chão, levanto a cabeça lentamente e olho meu reflexo no espelho.
Vejo o reflexo da minha dor.
Vejo Charles.
Vejo Dianna.
Vejo Eddie.
E vejo Joe...

Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre-me como lutar pelo momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar para você uma vez que entendi
Que você estava aqui o tempo todo
É como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Olhando de volta para mim

Solucei.
Me levantei.
Eu devia mudar essa música. Mas não mudei.
Eu não podia mudar o que estava acontecendo dentro de mim.
Fui até o espelho e parei na frente da minha mãe. Ela olhava para mim. Encostei minha testa no espelho e percebi que minhas lágrimas estavam quentes.

Você é especial, uma original
Porque não parece assim tão simples
E eu não posso deixar olhar, porque
Vejo a verdade em algum lugar nos seus olhos
Nunca poderei mudar sem você
Você me reflete, amo isso em você
E, se eu pudesse, eu
Olharia para nós o tempo todo

Olhei para o lado e lá estava meu pai.
Oh!
Por que ele não veio atrás de mim?
Eu não queria saber a resposta. Eu já sabia.
Gritei.
Bati no espelho, repetidas vezes, eu podia sentir o sangue em minha mãos.
Eu queria morrer! Queria que a bosta daquele espelho estourasse assim como o da minha alma.
Mas ele não estourou.
Algo segurou minhas mãos ensanguentadas e me trouxe para si.
Joe.

Porque com a sua mão na minha mão
E um bolso cheio de alma
Posso dizer, não há lugar aonde não podemos ir
Ponha apenas a sua mão no vidro
Estarei aqui tentando puxar você
Você só tem de ser forte

Arfei e gritei novamente.
Ele me puxou para longe, com minhas costas em seu tronco e minhas mãos nas suas, em meu colo.
Eu continuava chorando e gritando, com seus lábios em meu ombro.
Eu podia sentir suas lágrimas descendo no meu corpo.
Ele também chorava.

Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre-me como lutar pelo momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar para você uma vez que entendi
Que você estava aqui o tempo todo
É como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Olhando de volta para mim

Joe caiu no meio do salão e me levou junto.
Ele estava ajoelhado me segurando enquanto eu oscilava em seus braços.
Ele me virou, e agora suas mãos ensanguentadas com meu sangue estavam em minha nuca. Segurando meu rosto perto do seu. Mantendo meus olhos nos seus.

Ontem é história
E amanhã é um mistério
Posso ver você olhando de volta para mim
Mantenha seus olhos em mim
Mantenha seus olhos em mim

Seus olhos estavam vermelhos e seus lábios inchados, entreabertos.
Eles estavam se aproximando.
Parei de chorar.

Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre-me como lutar pelo momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar para você uma vez que entendi
Que você estava aqui o tempo todo
É como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Olhando de volta para mim

¾ Não. Não era tudo o que eu queria. ¾ Joe sussurrou em meus lábios, ainda olhando em meus olhos.
 E ao terminar de falar isso, pressionou seus lábios nos meus. Tão suavemente que eu choraminguei, levando minha mão suja de sangue para sua bochecha e aprofundando o beijo.

Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida
Você é, você é o amor da minha vida

Com seus lábios nos meus, não ouvi mais o resto da música.
Tudo o que eu ouvia agora, era o som dos nossos corações.
¾ Você é, você é o amor da minha vida. ¾ ele sussurrou.
Enquanto Joe dava repetidos beijos em meu ombro suado, deslizei minha mão cortada e deixei uma trilha de sangue em seu tronco nu. Do seu ombro ao seu peito ¾ sua camisa se perdeu assim como nós enquanto nos beijávamos. Pude sentir as batidas de seu coração em minha mão. Ele falava a verdade.
Desci minha outra mão pelo seu braço, sentindo todos seus músculos contra minha palma, e espalmei minha mão na sua. Estávamos interligados. Ele era meu espelho.
Joe sorriu para mim.
Eu sorri para ele.
¾ Agora você é meu espelho? ¾ perguntei.
¾ E agora você o meu reflexo. 
(...)
¾ Agora vem, vamos limpar essa mão.
Joseph não esperou minha resposta e me pegou nos braços, me jogando por cima do ombro e me deixando espernear até a sala.
(...)
¾ Você precisa de um banho. ¾ acusei, depois dele terminar de fazer um curativo em minha mão.
¾ Sua culpa. Quem mandou tirar minha roupa e me agarrar? ¾ riu, e recebeu um tapa no braço.
¾ Vá se foder, Jonas. ¾ embirrei, saindo de seu colo e subindo as escadas.
Ele me seguiu, agarrando-me pela cintura e me puxando bruscamente para ele.
¾ Amo você, sabia? ¾ mordeu meu ombro. Eu ri.
¾ Eu também amo você, sabia? ¾ virei-me para ele, enlaçando seu pescoço com meus braços.
Ele se fez de pensativo.
¾ Hum... Prove.
Gargalhei. E sem pensar duas vezes, eu o beijei.
(...)
Enquanto eu tomava banho, pensei sobre em como minha vida estava andando, e pensei se estava fazendo a coisa certa dessa vez.
Comprovei que não sabia a resposta para essa pergunta e decidi que iria perguntar a única pessoa que nunca me abandonou, por mais errada que fosse, e que me amava, por mais errada que fosse. E que vivia a vida, por mais errada que fosse.
Minha mãe.
(...)
Depois de colocar uma roupa limpa, desci as escadas e não encontrei Joe. Fui procurar na cozinha e a única coisa que encontrei foi um bilhete na porta da geladeira.

‘’ Tive que sair. Mellissa estava com a mãe, e eu vou busca-la na casa dela. Não se preocupe, Demi. Por mais que você pense, você não está estragando uma família. Você está formando uma. Te vejo no Funbal amanha? Mellissa está com saudades, e eu também.
Eu te amo.
Joe.’’
(...)
¾ Vou visitar minha mãe hoje, Nick. ¾ choraminguei, precisando de apoio. Sabia que iria encontrar isso em Nick. E ele sabia do que eu precisava.
¾ Ora, Demi. Venha cá. ¾ ele sorriu, e eu me enterrei em seu corpo, entre seus braços, cheirando seu peito e acariciando seu cabelos. Como eu sempre faço. E ele me apertando, varrendo minha bochecha e minha orelha com seus lábios. Como ele sempre faz.
Dando-me apoio. Como ele sempre faz.
Estamos no Funbal, na área das crianças. É por volta das duas da tarde e hoje é sexta-feira. Ou seja, o lugar está lotado! Sexta e sábado abrimos cedo. E é assim que funciona.
¾ Com licença. ¾ Selena apareceu, sorrindo. Por mais que ela seja a namorada de Nick, ela sabe que somos como irmãos, e que nada acontecerá entre a gente. Sei que existe uma pitada de ciúmes ali, mas nada contra. Ela não pode fazer nada para mudar isso, e nem eu e Nick. ¾ Tem um homem te procurando, Demi. ¾ falou, depois de me beijar a bochecha.
Oh! Joe.
Mas foi só eu olhar para o lado que eu lhe vi, sério, e ele apenas assentiu para mim. Girou os calcanhares e saiu.
Olhei para Nick e Selena e bufei, correndo até a saída em meus saltos.
¾ Joe! ¾ ele já virava a esquina.
Olhei para meus pés e sabia que não aguentaria. Eu sentia que estava perdendo meu chão, que acabou de ser construído.
Subi a cabeça novamente e enxerguei um espelho na minha frente, e lá estava Joe, com uma mão no espelho. Coloquei a minha lá.
O espelho sumiu.
(...)
Depois de entrar no meu carro, acelerei até a casa de Joe.
Toquei a campainha e uma garotinha abriu a porta.
Mellissa.
Agora tudo que eu vi foi cabelo ruivo voando no meu rosto enquanto eu a pegava no braço e ela se jogava contra mim.
¾ Demi!
Consegui tirar seu cabelo do meu rosto e encontrei um Joe sem camisa com um pano de prato na mão no outro lado da sala.
Ele entrou na cozinha e eu sabia que ele não estava para papo.
Melhor assim.
Coloquei Mel no chão e ela foi para o sofá.
¾ Vou ter uma conversa com seu pai, ok, gatinha? ¾ ela assentiu e voltou a assistir algum desenho que passava na TV.
Fechei a porta da casa e olhei para a mesma.
Ah!
Cenas se passaram em minha mente e eu fechei os olhos, balançando a cabeça. Não. Não agora.
Fui para a cozinha e outra maré de lembranças me atingiu. Foquei meus olhos no homem lavando louça e tudo desapareceu.
Agora era só eu e ele.
O alcancei e enrolei meus braços em sua cintura, espalmando minhas mãos em seu abdômen e o puxando para mim. Meus lábios foram para suas costas nuas e meus dedos sentiram gomos se formando em minha palma a cada beijo que dava.
Ele largou tudo e limpou as mãos no pano, jogou o mesmo na pia e se virou, me olhando agora beijando seu peitoral.
¾ Quem é ele? ¾ sua voz saiu grossa, porem aveludada.
Olhei para seu rosto sério e falei:
¾ Um amigo. ¾ ele arqueou uma sobrancelha. Ok. ¾ Quase um irmão. ¾ ele continuou na mesma.
Revirei os olhos.
Qual é agora?! Ele não é meu namorado! Até a Selena, que é namorada do Nick, entende!
Peguei meu celular do bolso e tinha uma mensagem do Nick:
‘’Boa sorte, baixinha. ’’
Sério. Foi impossível não sorrir. Foi automático!
Ouvi Joe bufar.
Olhei as horas e eram uma da tarde. Voltei a colocar o celular no bolso.
As visitas na prisão são de uma as duas horas. Eu demoraria no mínimo meia hora para chegar lá. E ficar apenas meia hora não ia adiantar.
Suspirei.
Merda.
Vou ter que deixar para outro dia.
Voltei a olhar para Joe e falei:
¾ O que foi, Joe? ¾ troquei o peso do meu corpo para outra perna.
Já falei que salto alto tem tempo usável?
¾ É que... ¾ ele não terminou. Mel apareceu na cozinha.
¾ Estou com fome, papai. ¾ olhei para ela e a mesma estava coçando o olho.
Joe foi na geladeira e tirou de lá um iorgut.
¾ O almoço já está saindo. ¾ ele sorriu e a beijou na testa.
Ela se foi.
E foi ai que eu vi que ele já tinha uma pessoa para cuidar. Ele não precisa de outra.
Enquanto Joe ainda estava de costas, olhando-a ir embora, eu também fui. Pelas portas dos fundos. Dei de cara com o quintal.
Oh!
Olhei para a esquerda e vi a casa de Patrick.
Ela estava toda escura. Sem ninguém.
Olhei para a janela do meu antigo quarto e vi uma menina, se arrumando para sair, com a blusa da ramones e sua calça de couro. Sua jaqueta também de couro estava repousando na cama, e ela se olhava no espelho, passando lápis de olho. Sua mãe rompeu pela porta e abriu a boca, parecia brigando com ela. Tudo estava mudo, eu estava longe, e dava podia ouvir. A mãe levantou a mão para a  menina, e a filha pegou no pulso da mesma, segurando-a no ar e impedindo-a de bater na sua cara. Elas pareciam estar gritando. Um homem chegou, só de cueca, e foi para cima da menina. A menor chorava, e a mãe também. Até que vidros voaram para todo lado. O homem caiu. A menina correu. E eu sai dali, correndo, não querendo lembrar e nem pensar em mais nada.
¾ Demetria! ¾ pude ouvir Joe gritando.
Mas eu não parei.
Nem olhei para trás.
Joe tem uma filha para criar.
E eu preciso de alguém para cuidar de mim.
(...)
A campainha tocou e era Nick e Selena.
Deixei a porta aberta e voltei para o sofá.
¾ Que desanimo é esse, gatinha? ¾ Selena.
¾ Você não foi ver a sua mãe? ¾ Nick.
¾ Não. ¾ eu.
Selena se sentou em minhas coxas. Eu estava deitada no sofá.
¾ Foi aquele cara, não foi? ¾ Selena me conhece muito bem.
¾ Foi.
¾ Você gosta dele? ¾ Nick perguntou, sentado no outro sofá.
¾ Eu o amo, Nick.
(...)
A campainha tocou e Selena foi atender. Eu continuei deitada no sofá, e Nick, no outro.
¾ Ela está na sala. ¾ Selena foi logo falando.
Era assim?
A pessoa chegou até o sofá em que eu estava deitada e ficou do meu lado, fazendo sombra em meu rosto.
Joe.
¾ Joe. ¾ constatei, me sentando. ¾ Se você está aqui para me pedir satisfação novamente, nem comece! Eu já falei que Nick é apenas um ami... ¾ ele me interrompeu, com sua boca na minha.
Eu ainda estática, levei minhas mãos para sua bochecha e o afastei.
¾ O que f... ¾ Oh céus! Sua boca voltou para a minha.
¾ Eu acredito em você. Desculpe. ¾ ele finalmente sorriu. ¾ É que minha filha estava gripada, e eu estava estressado.
Um brutamonte parou no lado de Joe.
Oh merda! Nick.
¾ Alto lar! ¾ revirei os olhos. Joe, o olhou de cima a baixo.
Brutamontes.
¾ Você chega assim, e vai logo beijando? ¾ Nick é tão velho as vezes...
 Joe se constrangeu. Ele é mais velho que Nick, e agora parecia uma criança na frente do mais novo.
Eu pagaria para ver isso! Mas já que é de graça...
¾ Nick, estou certo? ¾ Joe o estendeu a mão, e eu pude ver que quando Nick alcançou, era como uma queda de braços.
¾ O carinha que a atrapalhou de ver a mãe, estou certo?
Oh!
Joe olhou para mim chocado, com a expressão penalizada.
¾ Você iria visitar ela hoje? ¾ perguntou.
Olhei dura para Nick, e ele sorriu. Selena e pegou pelo braço e o levou embora.
Agora estava só eu e Joe.
(...)
¾ Ia.
Ele me alcançou.
¾ Desculpa. Eu e meu ciúmes imbecil estragamos tudo. ¾ hum... Ciúmes, hãn?
¾ Ciúmes? ¾ alfinetei.
¾ Problemas?  ¾ Joe arregalou os olhos.
Ergui os braços para ele me abraçar e assim foi feito.
¾ Talvez. ¾ respondi, e nós rimos, oscilando um nos braços do outro enquanto riamos.
(...)
¾ Mãe?
Eu estava em uma salinha, no presídio, e uma mulher com os cabelos loiros, e vestida com um macacão se virou para mim.
Era ela.
¾ Filha. ¾ e nada mais foi dito.
Abraçamos-nos e choramos, soluçando nossa dor.
Ela se afastou de mim, segurando minhas mãos, e me analisou de cima a baixo. Sorriu.
Eu estava com minha inseparáveis botas de cano longo de couro, com saltos. Isso me fazia ficar um pouco maior que ela. Minhas calças jeans eram justas, e minha blusa era azul clara, com um casaco por cima.
¾ Graças a Deus. ¾ foi isso que saiu por entre seus lábios secos. E seus olhos úmidos sorriram para mim.
Contei sobre tudo que aconteceu comigo desde minha ‘’fuga’’, até Joe. Quando falei dele, ela sorriu.
¾ É ele. ¾ o que?
¾ Como assim, mãe?
¾ Você nunca foi de deixar homem nenhum se aproximar de você, Demetria. ¾ ela riu. ¾Você não vê? É ele, Demi. Foi ele quem a vida escolheu para você, querida. Ele é o homem certo para você.
Ela respondeu minha pergunta.
¾ E que o falecido Charles me perdoe, mas filha. Você é dele. E ele é seu. Não perca isso, por favor, filha. ¾ e ela voltou a chorar.
Eu sorri entre lágrimas e a abracei.
Uma mulher apareceu dizendo que falava apenas 5 minutos.
¾ Eu vou te tirar daqui, mãe. ¾ sussurrei em seu ouvido, ainda no abraço.
Eu podia pagar sua fiança como comprar pão.
Ela ficou tensa em meus braços.
¾ Não, filha. Não. ¾ hãn? ¾ Deixe-me, por favor. Deixe-me pagar por tudo que lhe fiz. ¾céus. Ela se sentia tão culpada.
¾ Mãe, não foi você que fez isso comigo. Foi à vida.
(...)
Um ano depois...
¾ Não acredito! ¾ gritei, quando Nick e Selena apareceram em minha porta.
O casal não demorou em responder em uníssono:
¾ Vamos nos casar! ¾ a alegria deles era contagiante, e por mais que esse dia não esteja sendo muito bom para mim, eu sorri verdadeiramente.
Nesse ultimo mês, a mãe de Mellissa separou do noivo, esposo, macho, ou sei lá o que dela. E está dedicando a maior parte de seus dias para sua filha, que antes ela nem queria ver pintada de ouro. Sei; eu não devia estar enciumada ou algo do tipo, mas qual é?! Eu me apeguei à menina! E ela se apegou a mim.
Para quem ela vinha quando chorava? Demetria.
Para quem ela gritava quando estava doente? Demetria.
Para quem ela pedia conselhos quando ficava com dúvida em algo que seria embaraçoso perguntar para o pai? Demetria.
Para quem ela pedia colo quando estava triste? Demetria.
Era eu e ela. Sem falar de Joe, que era um pai super coruja.
Era eu, ela e Joe.
Mas nesses últimos meses, está sendo Blanda, Mellissa e Joseph.
E eu não me sinto no direito de achar ruim. Por que eu só estava ocupando temporariamente o lugar de Blanda. Mas agora ela veio apoderar-se do lugar de direito. O lugar de sangue.
Mas o que mais me magoa, não é nem isso. É por que eu sei, que assim como ela veio; rápida e furtiva. Ela também vai.
E a minha pequena gatinha vai voltar, magoada e quebrada, assim como eu a encontrei.
Quando eu me lembro de Joe, tenho vontade de gritar!
É só essa mulher chegar, que ele vai correndo atrás como um cachorrinho! E sem falar que ela tem um corpo de modelo, sua beleza é magra e elegante. Ficou fora por quase 1 ano, e agora, quando volta, derruba não só quem deixou, mas quem ficou.
Ou seja:
Mel.
Joe.
E agora, eu.
¾ Mas mudando de foco. ¾ Nick começou. Estávamos sentados no sofá, e faz um longo tempo que começou uma conversa sobre o futuro casamento deles. Mas eu não estava prestando muita atenção.
¾ Fiquei sabendo que a Blanda voltou. ¾ Oh sim! Nick e Joe construíram uma grande amizade.
Percebi que Nick estava tentando ser o máximo sutil. E isso me irritou.
¾ Eu não quero falar nisso, Nick. ¾ e o assunto acabou. Eles foram embora, depois de uma bebida.
E o dia se foi.
Joe não veio, e muito menos Mel. O que foi bem estranho, já que todos os dias eles passam por aqui de noite, e muitas vezes, até dormem aqui. Mas desde que Blanda voltou, isso mudou.
Quando Joe me beija, é rápido e prático. Não como antes. Não como fez com Blanda, quando eu fui até sua casa nesse mesmo dia, de noite, e o vi a beijando.
(...)
Típico. Épico. Chame do que quiser! Mas para mim continua sendo a mesma coisa: Traição. E isso eu não perdoo.
Convivi com isso, e sei que não quero viver com isso.
¾ Hum. ¾ comecei, ainda na porta. Não ia passar disso.
Joe estava sentado no sofá, imóvel, olhando para mim petrificado e seus lábios avermelhados piscavam para mim. Blanda estava com um vestido preto, no colo de Joe, de frente para ele. A barra de seu vestido mal cobria sua calcinha rendada. Ela estava muito ocupada deixando um rastro batom pelo rosto de Joseph, e não me olhou. Ou apenas não quis.
Era isso que ela queria.
Isso me fez pensar: Batom; eu nunca uso. Odeio! Joe concorda comigo, e diz que prefere o gosto natural dos meus lábios.
Então por que diabos?! Argh! Eu não queria pensar. Eu não queria continuar ali. Eu não queria nem continuar a falar!
Mas quando vi uma menininha, ruivinha, de moletom, descendo as escadas; olhei atônica para a cena deplorável que presenciei, e me lembrei.

‘’Era natal. Época de paz e felicidade! Mas não lá em casa.
Eu tinha 9 anos. A única coisa que tinha certeza era que minha mãe tinha que ficar com meu pai, Eddie, o homem que a beija e cria sua filha junto com ela. Ao menos nessa época. Ao menos nesse dia!
Mas não foi isso que aconteceu.
Eu ia beber água na cozinha, enquanto esperava meu pai voltar da rua, trazendo o peru para a ceia de Natal.
Algo rompeu pela porta, e não foi meu pai trazendo um peru.
Foi minha mãe, trazendo um homem para dentro de casa. Ou vice-versa. Aos altos beijos.
Deixei meu copo de vidro cair, tamanho desespero e vazio que senti.
Esse não era meu pai.
Isso não estava certo.
A vida não estava mais certa.
A vida perdeu o sentido para mim!
Eu não tinha mais certeza de nada.
Nem que papai Noel ainda existia. Parei de acreditar no natal, e em tudo, até na minha mãe, a partir daquele dia.
Eu nem sabia o que era aquilo!
Quando todos na sala ouviram o impacto do vidro se espatifando no chão; o cara parou de se atracar com Dianna, e a mesma apenas riu. Bêbada. Ele me olhou chocado, e outro barulho ouve. Meu pai, perguntando:
¾ Que porra é essa? Você está me traindo?
Corri para o quarto e tranquei a porta, fechando meus ouvidos e meu coração.
A partir daí, intitulei isso como ‘’Traição’’. ‘’

Foda-se, que Blanda seja a mãe de Mellissa e seu pai Joe!
Ainda seria um choque para ela. Assim como foi para mim.
Joe me beijava. A mim! E era isso que ela estava acostumada. Era isso que era o certo para ela. Ao menos até agora!
Seus olhos claros foram parar na situação do sofá, e seus olhos ficaram parados, perderam o brilho, e se arregalaram. Depois de um segundo, eles ficaram úmidos, e ela choramingou aos seus olhos pararem em mim:
¾ Demi. ¾ não tinha a mesma animação. Algo morreu dentro dela assim como morreu em mim. Mas ela ao menos tinha para quem correr.
A peguei em meus braços, e rapidamente ela se enrolou em mim, enterrando sua cabeça e suas lágrimas em meu pescoço. Ela oscilava em meus braços, soluçando. Sua mãe olhou para mim, com o barulho.
¾ Que diabos é esse barulho infernal?
Meus olhos foram parar em Joe, eu estava séria, enquanto uma de minhas mãos estava na cabeça de Mel, impedindo-a de olhar para o que eu olhava, deixando-a em meu corpo. Protegendo-a como eu queria que tivessem feito comigo.
Joe ainda não se mexia, e muito menos falava.
Pensei em pensar em uma frase de efeito, para falar e sair de lá sambando em cima do salto!
Mas aqui, agora, é como aquelas brigas, que a gente só pensa em uma resposta boa depois que a briga acaba. Estamos falando de vida real!
Sai de lá com a menina ainda chorando em meus braços. E por mais que meu carro esteja na esquina, decidi ir andando, sentindo o vento frio e cortante da noite. E por mais que eu esteja preocupada com Mel, que não está mais chorando, e sim calma, tentando processar tudo, eu sei que é disso que ela precisa. E isso só fará bem para ela, por que as vezes, a gente só quer sentir algo forte, intenso e doloroso, que não esteja ocorrendo dentro da gente.
(...)
Depois que coloquei Mel em minha cama, me deitei ao seu lado e trouxe-a para mim, esquentando-a com meu corpo.
¾ O que era aquilo, Demi? ¾ perguntou.
Oh, Jesus!
¾ Quer dizer... ¾ continuou: ¾ Aquilo estava certo? ¾ ela estava tão confusa quanto eu.Aquilo estava certo?
¾ Ela é sua mãe, Mel. ¾ falei. Como se aquilo fosse uma justificativa tanto para mim quanto para ela.
¾ Mas ele é seu, Demi. Seu.  ¾ ela se referia a Joe.
Sim; ele era.
(...)
Na manha seguinte, acordei com a barulho da porta de meu quarto. Mas eu não abri os olhos.
Um homem apareceu.
Joe.
Mel estava agarrada a mim enquanto dormia, e eu a abraçava pelas coxas. Minha cabeça descansava em sua barriga, e suas pernas se enrolavam em minha cintura.
Eu estava tão cansada.
Dormi.
E só acordei novamente com Mel beijando meu rosto. Seus cabelos me davam cocegas.
Gargalhei.
¾ Minha gatinha acordou? ¾ perguntei.
¾ Acordei sim, gatinha. ¾ foi a vez dela de rir.
Ainda estávamos na cama, deitadas e de olhos fechados.
Abri os olhos e Joe os capturou.
Ele estava sentado na poltrona, eu não podia decifrar seu rosto.
Não mais.
Ele já não era o meu Joe.
¾ Hey. ¾ fiz Mel abrir os olhos. ¾ Seu pai está aqui. Vá falar com ele, gatinha.
Meio hesitante, ela foi. O levou para a sala, e eu voltei a cair na cama.
(...)
Só percebi que dormia, quando senti uns dedos trilhando meu rosto.
Mania de Joe.
Abri os olhos e constatei que era ele.
Ele estava na minha cama, virado para mim e me olhando dormir. Me tocando.
Dei um pulo da cama ao perceber isso.
¾ O que quer? ¾ perguntei.
Joseph me olhou penalizado.
¾ Você.
Eu conheço essa conversa.
(...)
¾ Pois não parecia isso ontem. ¾ repliquei.
¾ Demi, foi ela que veio para cima de mim! Entenda: eu não queria aquele corpo, eu queria você! O seu corpo! A minha Demi! Eu estava sentado no sofá, sem blusa, por que Blanda já tinha saído e eu estava em casa. Cochilei no sofá, e quando acordei, foi com ela em meu colo, me beijando. Foi ai que você entrou.
¾ E você, super inocente, deixou ela permanecer em seu colo. ¾ ironizei.
¾ Você queria que eu fizesse o que? 
¾ Ia lhe indicar inúmeras coisas para fazer naquele momento para a afastar. Não a levar para sua casa, talvez. ¾ não deixei ele falar. Eu já sabia. ¾ Mas ela é a mãe da sua filha, eu sei! ¾ o cortei. ¾ Mas o que era aquilo? Não tinha um quarto? ¾ perguntei: ¾ Você sabe o que sua filha vai pensar, ou melhor, o que ela pensou? ¾ eu já gritava.
¾ E você por acaso sabe? ¾ gritou: ¾ Como você pode saber?
Explodi.
¾ Por que eu já passei por isso!
(...)
Ele se calou.
¾ Sabe o que sua filha me perguntou, ao chegar aqui? ¾ ele fez que não. ¾ Ela me perguntou o que era aquilo, e se era certo. ¾ suavizei mais a voz: ¾ Eu falei que Blanda era sua mãe. E sabe o que sua filha falou? ¾ trouxe seus olhos pesados para mim. ¾ Que Blanda podia ser sua mãe. Mas você era meu.
Ele caiu sentado em minha cama, desolado.
Oh! Odeio o ver assim.
¾ Desculpe, Joe. ¾ sim. ¾ Desculpe por ter destruído sua família.
Ele se levantou, irado de raiva.
¾ Não foi você que destruiu minha família, Demetria! Foi ela¾ e sua voz abaixou, para continuar: ¾ Fui eu.
Foda. Isso me desarmou.
¾ Você só fez construir uma família, Demi. Você não errou. Fui eu. Eu sempre erro. Eu sempre destruo o que tenho nas mãos. Primeiro foi Blanda, e agora, você. ¾ ele queria me tocar, eu sentia; mas ele não fazia. ¾ Você não, Demi. Por favor, você não. ¾ ele pediu, olhando em meus olhos.
Mas eu não viveria com isso.
Ele pegou bem no calo.
Traição.
¾ Você não entende, Joe.
¾ Então me faça entender! ¾ ele pedia com tanta fervura, que assim eu fiz.
Eu o fiz entender.
Eu lhe contei tudo.
¾ Oh meu Deus! Desculpe, Demi. Eu sou um monstro, eu sou um monstro, eu sou um monstro... ¾ ele repetia, até eu segurar em seu ombro.
¾ Não, você não é. Você não podia saber. ¾ tentei o reconfortar.
¾ Eu quis construir uma família de novo, Demi. Mas eu não sabia que já tinha uma construída. ¾ me olhou: ¾ Com você.
E esse foi o fim.
Eu não me sentia boa o suficiente para firmar uma família, e ele acabou de confirmar isso. Pois se ele estivesse certo de que eu era boa, e firme, ele não procuraria outra.
Ele confirmou.
Essa foi minha confirmação.
Essa foi a nossa finalização.
(...)
Dois meses depois, e eu nunca mais vi sinal de Mellissa ou Joe.
Nick e Selena viajaram para espalhar a boa nova para suas famílias.
Família.
Algo que eu tinha, ou achava ter, e que foi tomado por Blanda. Ou aquela família nunca foi minha.
A que eu tinha, estava no presídio. Minha mãe.
Ao seu pedido, parei de visita-la. Não paguei sua fiança. Não fiz nada! E tudo, ao seu pedido. A única coisa que eu não fiz foi esquece-la.
Nem ela, nem Eddie. Nem Joe...
Era final de ano. Ano novo.
Decidi pegar meu carro e dar um volta, tentando despistar a onda de nostalgia que tentava me atingir, junto com as lembranças.
Quando me vi, estava numa estrada vazia. Já estava de noite, mas que se foda! Eu não tinha para onde ir, não tinha para quem voltar. Então eu acelerei, ligando o rádio, em uma maneira de colocar uma trilha sonora em minha vida, para animar.
Começou a tocar Mirror, do Justin Timberlake.
Oh, não.
As lembranças vieram junto com minhas lágrimas, como uma enxurrada.

Mas não é que você é algo para admirar?
Porque o seu brilho é algo como um espelho
E eu não posso deixar de reparar
Você reflete neste meu coração
Se você um dia se sentir sozinha e
A luz intensa tornar difícil me encontrar
Saiba apenas que eu estou sempre
Do outro lado, paralelamente

Tirei uma mão do volante e esfreguei meus olhos embaçados pelas lágrimas que não paravam de vir. As lembranças tapavam minha visão, e desfocavam a mesma.
Mas quando eu finalmente consegui focalizar, a estrada sumiu, meu pé petrificou sobre o acelerador, como se o mesmo estivesse tão pesado quanto meu coração; minhas mãos voltaram para o volante, e agora era apenas um espelho no final do caminho.

Porque com a sua mão na minha mão
E um bolso cheio de alma
Posso dizer, não há lugar aonde não podemos ir
Ponha apenas a sua mão no vidro
Estarei aqui tentando puxar você
Você só tem de ser forte

Não.
Dianna.
Eddie.
Charles.
Joe.
Todos atrás do espelho, aprisionados, e com uma mão espalmada contra a superfície plana do mesmo. Esperando-me. Esperando-me colocar minha mão lá também.
Não. Eu não precisava mais ser forte. Para quê? Por que?
Não mais.
Sim. Eu queria me juntar a eles.
E foi isso que eu fiz, pisando firme meu pé no acelerador, em uma tentativa de chegar lá mais rápido.
Minha visão estava novamente embaçada, tanto pelas lágrimas quanto pelas lembranças.

Você é especial, uma original
Porque não parece assim tão simples
E eu não posso deixar olhar, porque
Vejo a verdade em algum lugar nos seus olhos
Nunca poderei mudar sem você
Você me reflete, amo isso em você
E, se eu pudesse, eu
Olharia para nós o tempo todo

Meus olhos se fixaram em Joe, e foram passando por cada par de olhos das quatro pessoas que estavam olhando para mim pelo espelho. E eu soube que eu não poderia mudar, por que eles sempre estarão ali, no outro lado do espelho. Sinceramente, eu já passei por muita coisa para mudar agora.
Pela primeira vez na vida, eu não quero mudar. Não quero ser melhor.

Ontem é história
E amanhã é um mistério
Posso ver você olhando de volta para mim
Mantenha seus olhos em mim
Mantenha seus olhos em mim

Um dia, Joe falou para mim, que eu era o melhor para ele. Mas ele provou o contrário.
Um dia, meu pai falou que eu era dele, mas ele mentiu.
Um dia, minha mãe falou que ela não precisava de homem, e que ela não ficaria com mais nenhum, mas ela provou o contrário.
Um dia, Charles me disse que era um homem feliz, mas ele mentiu.
Todos mentiram para mim, mas eu sempre fui verdadeira com eles.
Quem mais sofreu nisso tudo? Não sei. Mas eu acho que fui eu...
Então porque eu não parei de ama-los? O meu amor só aumentou cada vez mais!

Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre-me como lutar pelo momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar para você uma vez que entendi
Que você estava aqui o tempo todo
É como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Olhando de volta para mim

Meus olhos estavam em chamas, pelas lágrimas; e as lembranças de minha infância gritavam em meu ouvido.
Afundei meu pé no acelerador e espalmei minhas mãos em minhas orelhas. E em um grito de libertação, e a lei da inércia batendo minhas costas no banco do motorista, eu entrei no espelho, e o mesmo explodiu.
Minha cabeça foi direto para o volante, e sentindo meu sangue quente escorrer por meu corpo, apaguei.
Oh!
Eu finalmente apaguei.
(...)
Abro os olhos e a primeira coisa que vejo é meu pai.
Pera ai! Que?
Eddie.
Tento me mover, mas estou um pó.
Quanto tempo eu fiquei dormindo?
Fios saem e entram em meu corpo, e só consigo mexer minha cabeça para os lados.
Na direita, tem máquinas e mais máquinas, avisando que eu ainda estou viva.
Merda!
Na esquerda, tem um sofá e uma poltrona, com um criado mudo do lado, onde tem diversas flores.
Por que flores? Estou morta por acaso? Que eu saiba, não.
Eddie está do meu lado. Ele está vestindo um jaleco? Meu prontuário está em suas mãos, e ele finalmente me olha, espantado.
Seus dedos varrem minha bochecha, e eu sinto sua maciez.
¾ Papai está aqui, florzinha.
(...)
 ¾ Pai? ¾ ouvi minha voz perguntar.
Ele sorriu, o mesmo sorriso meigo e compreensivo de sempre.
O meu sorriso.
Mas o nosso momento foi quebrado, por outro médico rompendo pela porta.
¾ Ela acordou, Eddie? ¾ Oh meu. Era Joe!
Eu olhava para ele chocada. Fortes olheiras apoiavam seus olhos.
Céus. Ele estava acabado! Seu jaleco branco cobria seu corpo divino.
Ele olhou para mim pesaroso.
¾ Você não vai mais fugir de mim, gatinha. ¾ e ele se abaixou, encostando seus lábios suavemente nos meus.
Eu tive vontade de gritar para ele me beijar forte.
Eu estava com tanta saudade!
Um segundo depois, ele estava na parede, com meu pai o segurando pela gola.
¾ Enlouqueceu? ¾ meu pai rugia. ¾ Por que está beijando minha filha?
Quase podia sentir a saliva de Joe descendo rasgando pela garganta.
¾ O que? ¾ Joe perguntava, pálido.
(...)
¾ Pai ¾ tentei falar o mais alto que podia. Tudo doía. ¾ Solta ele. ¾ ri, o que pareceu mais um engasgo. ¾ Ele era meu namorado. ¾ era.
¾ Era? ¾ ele agora veio para cima de mim. ¾ Como assim era, mocinha? ¾ Jesus!
¾ Pai, eu vivi depois que você me deixou, sabia? ¾ os pedaços do meu coração saíram junto com minhas lágrimas.
E eu apaguei.
(...)
Descobri as seguintes coisas:
Eu estava em coma.
O hospital em que estava, era onde Eddie e Joe trabalhavam.
Joe era meu médico, e descobri depois que Eddie era um pediatra. Ou seja, não tinha nada haver comigo! Mas ele atendia nesse mesmo hospital, e vinha aqui todo dia, me ver.
Eu tinha ficado um ano em coma, e três vezes por semana, Nick e Selena vinham me visitar.
Eles adiaram o casamento, me esperando. Isso me fez chorar. Quem fazia isso? Meus amigos.
Minha aparência não estava deformada, graças a Deus. Mas eu tinha muitos cortes pelo corpo. Meu rosto estava quase intacto, já que o mesmo ficou protegido pelo volante.
Eu estava viva.
Eu estava com meu pai.
Eu estava com Joe.
E que se foda o resto!
Isso foi uma nova chance, e eu vou aproveita-la.
(...)
Um ano depois...
¾ Eu já falei que ela veio apenas visitar a filha, Demi! ¾ Joe tentava replicar comigo.
¾ Que se foda, Joe! Eu cansei! Vá viver sua vida e me esquece!
Joe me puxou pelo braço.
¾ Não, Demetria! ¾ falou, severo.
¾ Eu. Não. Vou. Dividir. Você. Com. Aquela. Vadia! ¾ falei alto e claro.
Ele enrolou meu corpo com seus braços, me aprisionando em seu corpo musculoso.
¾ E você não vai. ¾ me apertou contra ele. Oh! ¾ Ela só veio se despedir dela. Ela vai morar em Londres, Demetria. ¾ Que?
Ah sim!
¾ Que? ¾ eu estava cedendo para ele.
¾ Cala a boca e me beija, gatinha. ¾ e foi isso que eu fiz.
(...)
¾ Mãe! ¾ Mel gritou. Isso era música para meus ouvidos. ¾ Mãe! Corre aqui!
¾ O que foi, Mel? ¾ eu ri, olhando-a jogada na cama com o notebook do lado.
¾ Olha que gato! ¾ 12 anos, quase 13. Por que ela tinha que crescer tão rápido?
Na tela do computador, Ian Somerhalder.
Alguém tá vendo a poça de baba no meu lado? Por que eu acho que babei.
¾ Mãe, fecha a boca. Ele é meu. ¾ Outch! Mel segurou meus braços e me puxou para ela. Fui aprisionada em seus braços. Descansei minha cabeça em sua barriga.
Oh sim.
Ela era minha.
¾ Quem é seu, Mel? ¾ Joe.
¾ Não acredito que minha ruivinha está crescendo tão rápido. ¾ Meu pai.
Ele apareceu na porta do quarto de Mel, vindo atrás de Joe.
¾ Vovô! ¾ ela me largou rapidamente e pulou nos braços de meu pai. Ele a segurou pelas coxas.
¾ É. Você está crescendo rápido, minha Mel. ¾ Não! Revirei os olhos. Outch! Ciúmes? Ah! Qual é?!
¾ Fui esquecido. ¾ Joe murmurou, roubando-me um selinho.
¾ Sem drama, pai. ¾ Mel riu.
¾ Sem beijos na minha menina, Joe. ¾ Meu pai.
Caímos na risada.
Claro; apenas, Mel, Joe, e eu. Eddie continuou sério.
(...)
Eu e Joe estávamos em mais um briga.
¾ Por favor, Demetria. Pare de gritar! ¾ TPM? Quem dera! É justamente o contrário. Eu não estou menstruando!
É; eu sei que não estar menstruando não é motivo para reclamar. Mas quando você tem a vida sexual ativa, e sua menstruação atrasa, é questão de desespero. E quando você começa a ter diversas tonturas, e numa delas tem que correr para o banheiro e vomitar, o que é tipo agora, você grita!
Eu estou grávida.
Quero gritar novamente por Joe ter gritado.
Então para impedir isso, desço para a sala e encontro Mel e meu pai.
Essa casa vive movimentada. E ultimamente tudo está me irritando, mas eu não estou de TPM! O que piora tudo.
¾ Qual é, Demi?! Foi só um enjoo, e você vomitou. Pronto! Não precisa desse drama.
Fechei os olhos e senti que ia explodir.
Drama? A merda!
¾ Não é só isso, Joseph! ¾ gritei.
¾ E é mais o que, então? ¾ ele também se irrita.
¾ Eu estou grávida, Joe! ¾ Oh! Saiu.
Ele arregala os olhos.
¾ Você está grávida? ¾ assinto.
¾ Você não é mais virgem? ¾ meu pai pergunta, sua voz grossa chocada.
Sério?
Isso me fez olhar para ele com cara de: ‘’Sério que você falou isso?’’
¾ Que foi? É estranho pensar que minha filhinha tem uma vida sexual ativa. ¾ ele fala, e eu caiu na risada.
Junto com Mel.
Que? Minha filhinha sabe o que é isso?
Jesus; não!
¾ Você está grávida. ¾ Joe repetia, andando de um lado para o outro com um sorriso pateta no rosto.
¾ Você está grávida. ¾ Já é a sétima vez que ele repete isso, do mesmo jeito. Andando, e sorrindo, como se não acreditasse.
¾ Sim! Eu estou grávida! ¾ eu já estava impaciente. Então decidi esclarecer a situação para ele.
¾ Oh meu Deus! Você está grávida! ¾ seu sorriso ao olhar para mim foi até a sobrancelha.
¾ Si... ¾ mas eu não terminei, ele me agarrou, e me beijou.
¾ Apenas parem. ¾ Mel e Eddie falaram em uníssono, quando o beijo se estendeu a mais de minutos.
¾ Eu vou ser pai, de novo! ¾ Joe falou, abismado.
¾ Eu vou ser mãe... De novo! ¾ ri.
¾ Eu vou ser vovô, de novo! ¾ Eddie falou. O que ele tinha de músculo, ele tinha de estraga prazeres.
¾ Eu vou ser... Não, pera. ¾ Mel tentou falar, mas deu falha. E nos rimos.
E foi assim que o dia terminou.
Mais foi só um dia de nossa vida, de muitos que estavam por vir.
(...)
Em um ano, eu já estava com Charles nos braços. Meu filho.
Minha mãe soube de tudo, desde meu coma até o nascimento do meu filho.
Ela aceitou que não foi ela que me castigou, foi à vida.
Ela aceitou sair da prisão.
Eu aceitei me casar com Joseph.
Eddie aceitou minha mãe de volta.
Eddie aceitou se casar com minha mãe.
Nick e Selena se casaram, eles tiveram uma menina.
Eu aceitei a família que tinha. Por que no fim, essa sempre foi a minha família. Eu só precisava aceitar ela.
Eu só precisava aceitar que eu era assim, do meu jeito.
Eu só precisava aceitar a vida que eu tenho.
Por que eles, sempre foram o meu reflexo.
E eu só precisava aceitar.
E agora, eu finalmente aceitei.

The End.


Primeiramente, essa Fic não é minha, é da Becca, a dona de um dos meus blogs preferidos e mais perfeitos que eu já li. Então se você gostou dessa One-shot, entrem no blog dela que esta aqui em baixo, garanto que não vão se arrepender!!!